segunda-feira, 28 de julho de 2008

VOLTANDO DAS FÉRIAS

O editor do Reatorama tirou pequenas férias não tão lúdicas, porém mais reflexivas sobre a atuação no mercado da comunicação.
A semana que vem estarei participando na Miami Ad School - ESPM do curso de Pensamento Estratégico, e com certeza estarei publicando muito daquilo o que eu espero obter com o curso.
Aproveito e deixo aqui um grande abraço para algumas pessoas que recentemente passaram a integrar nosso network, a Roberta Carusi, planejadora e editora do blog Planejamento Criativo http://www.planejamentocriativo.com/ , a Emi Takahashi, velha colega de trabalho no início da carreira que hoje está na mídia da 141 Soho, e também o Fernando Figueiredo, diretor da Bullet.
E vai meu grande abraço ao velho colega que tanto já participou aqui do Reatorama, o Julio Cesar da Bahia, o qual se encontra na Paulicéia Desvairada para o curso que iremos fazer juntos na Miami Ad School.
Até breve então, sucesso a todos!
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Douglas Gregorio::.
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domingo, 6 de julho de 2008

MERCADO E ACADEMIA SÃO REALMENTE INCONCILIÁVEIS?


Há profissionais que ao longo da carreira pagam um preço alto por terem tido em sua formação base em ciência pura. O problema agrava-se ainda mais quando se trata de um curso da área de humanidades. Sociólogos, historiadores, antropólogos e outros assim que se aventuram em carreiras corporativas enfrentam sérios problemas.

Quando um acadêmico é “interceptado” tentando penetrar no mundo corporativo, uma das reações mais comuns é a de classificar este indivíduo como alguém aprisionado às suas necessidades materiais, já que seu prazer está ligado à livre divagação cultural, observação esta que via de regra é direcionada a outro raciocínio – ele não tem futuro no mundo corporativo, jamais se adaptará.

Por outro lado, quando um empreendedor ou executivo é “flagrado” tentando penetrar nos meios acadêmicos, uma das reações mais comuns é a de achar que ele está lá em busca de subsídios incremento de sua lucratividade, ou para fiscalizar a aplicação dos investimentos de sua empresa, ou ainda acham que ele esteja lá única e simplesmente procurando novas oportunidades de negócios.

Ambos os casos são pré-julgamentos os quais, com certeza, não possuem qualquer reflexo na realidade.

Conheço gente com formação humanística que atua no mercado publicitário, e evita de, por exemplo, citar um trecho de uma teoria clássica, por mais pertinência que esta tiver com a tarefa que estão executando.

Apresentar um plano à equipe e cair na besteira de citar inspiração nas regras do método cartesiano, por exemplo, pode não somente resultar na rejeição do projeto, mas também no comprometimento da credibilidade depositada no profissional, quando não – e não é exagero dizer – na perda do emprego.

Por outro lado, não são raras as notas baixas aplicadas por professores universitários a alunos que em seus trabalhos tentam estabelecer uma correspondência entre as teorias clássicas da cultura ocidental e as práticas que vivenciam no mundo corporativo, sob a alegação de “carência de rigor científico”.

Uma das tendências atuais do mercado é a procura de profissionais com “sólida base humanística”, mas quando os selecionadores são interpelados para explanar o que é entendido pela expressão, falam de “conhecimentos sólidos em antropologia, sociologia, filosofia ou psicologia, que permitirão analisar as questões de mercado com maior profundidade” – ou seja, nada é explicado nem definido.

Será, porém, que acadêmicos e executivos estão de acordo quanto ao significado do que seja uma “sólida base humanística”, e mais ainda, será que superaram os seus velhos preconceitos de julgarem-se mutuamente como “inconciliáveis”? De um lado, a academia acusando o mercado em priorizar o lucro em detrimento do homem e da sociedade, e de outro, o mercado acusando a academia de viver em divagações abstratas em detrimento das necessidades básicas e funcionais da sociedade.

Parece que existe uma unanimidade de discursos quando se fala sobre esta rivalidade. Todos dizem que ela não deveria existir, já que ambos são interdependentes – a academia necessita de financiamento para existir, enquanto o mercado necessita de diferenciais competitivos que em essência se originam do desenvolvimento científico – assim, por que partes tão complementares são tão hostis entre sí?

Na verdade, parece que esta diferença situa-se simplesmente no âmbito da linguagem.

O grande fluxo de informações no mundo corporativo inevitavelmente leva ao desenvolvimento de uma linguagem própria; obviamente, isso também vai ocorrer no mundo acadêmico.

Assim, por que executivos e intelectuais acusam-se mutuamente de alienação? Porque sociólogos chamam de comunicação institucional aquilo o que administradores chamam de branding? Porque antropólogos chamam de signos de identidade cultural aquilo o que publicitários chamam de lovemark? Porque filósofos chamam de comunidades de interesse aquilo o que o setor de desenvolvimento de produtos chama de nichos de consumo? Porque historiadores chamam de sociedade em rede aquilo o que comerciantes chamam de long tail? Porque cientistas chamam de observação metódica aquilo o que empreendedores chamam de trend hunting? Porque psicólogos chamam de conscientização de potencialidades aquilo o que o RH chama de treinamento? Os exemplos são intermináveis.

Observando por um outro ponto de vista, será que a academia e o mercado são tão excludentes porque um cientista social escreve um tratado científico para explicar a transformação dos conceitos administrativos após o advento da informática, e o mundo corporativo utiliza imagens e poucas palavras em sumárias apresentações em Power Point para explicar o crescimento de uma empresa com a aplicação de tecnologia de última geração? Fato é que metodologias corporativas jamais se desenvolveriam e evoluiriam sem base científica, assim como não existe sentido em escrever tratados científicos que só interessam às famintas traças da biblioteca.
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Aí reside a diferença entre ciência e tecnologia – a primeira precisa estar atenta a todos os detalhes do seu objeto de estudo (case na linguagem corporativa) e realizar experimentos que confirmem regras (expertise ou know how em linguagem corporativa), enquanto a segunda desenvolve formas e métodos de se aplicar no dia a dia este conhecimento de forma prática e produtiva.

Quanto à acusação de linguagem hermética – aquele famoso “não deu para entender nada!” – a qual geralmente recai mais sobre a academia que sobre o mundo corporativo, ocorre aí a necessidade de um auto-policiamento mútuo.

Hoje ainda há a desculpa da globalização para se justificar o excesso do uso de expressões de origem na língua inglesa pela linguagem corporativa, mas fato é que esta tendência é observada desde décadas antes do advento da Internet e dos jargões globalizantes. Em contrapartida existem aqueles acadêmicos que utilizam palavras expressões raramente utilizadas na linguagem coloquial, mas que nela encontram precisos correspondentes, justificando esta prática pela excelência científica, quando na verdade trata-se de mera linguagem rebuscada a qual garantirá ao orador o rótulo de erudito.

O problema da conciliação das partes está justamente na tradução de um lado para outro; radicais em suas posições, mercado e academia apresentam fortes argumentos cada qual justificando a inconciliação entre ambos os interesses, quando na verdade é justamente a falta de maleabilidade entre as partes que gera os atritos.

Ambas as partes alegam prejuízos de tempo e prática nas tentativas de transposição das linguagens a qual mais cheira a reserva de feudos que outra coisa.

Assim, outra tendência atual é a de se observar profissionais que procuram se manter ligados a ambas as partes em esforço de conciliação.

Apesar de haver hostilidades mútuas, talvez seja mais difícil para o mercado aceitar profissionais com nuances acadêmicas que o contrário.

No mercado, os elementos colocam-se como vivendo uma permanente guerra de concorrência, onde o tempo e a informação são valiosos à sobrevivência, assim, incorporar um acadêmico à equipe de trabalho pode representar, segundo seus infundados temores, um grave desvio estratégico e um grande risco à produtividade.

Já para a academia, talvez seja mais fácil aceitar um executivo ou empreendedor em seus quadros, já que estes são eternos curiosos em busca de novos casos a serem investigados.

Perdão meu caro leitor, parece que este artigo não possui uma finalização – e não possui mesmo. Porém, ainda tenho esperança de ver esta inconciliação superada. Só não me pergunte como.

Douglas Gregorio::.
Julho de 2008.