quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Campus Party 2009 - um verdadeiro Woodstock Digital.


Juventude: eis uma palavra que lembramos de forma constante quando estamos visitando a Campus Party 2009, que aconteceu aqui em SP, no Pavilhão Imigrantes, entre os dias 19 e 25 do mês de janeiro.


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Para aqueles que não sabem o que é o Campus Party, trata-se de uma idéia surgida na Espanha, nos anos 90. Tal como um “Woodstock digital”, dezenas, centenas, milhares de internautas do mundo todo, os chamados campuseiros se reunem num mesmo lugar, levando consigo seus computadores. Durante sete dias, o intercâmbio é intenso na medida em que transcorrem as palestras e workshops referentes aos 12 temas debatidos: CampusBlog, Games, Simulação, Modding, Música, Design, Fotografia, Vídeo, Desenvolvimento e Software Livre.

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Segundo o site oficial do evento http://www.campusparty.com.br/ foram 6655 campuseiros inscritos, e é claro que este número não inclui as outras milhares de pessoas que participaram como visitantes e profissionais envolvidos.

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Depois de 12 anos acontecendo na Espanha, o evento de lá saiu e veio acontecer aquí no Brasil, em 2008, depois na Colômbia e também em El Salvador. Este ano há a promessa de uma expansão ainda maior pela América Latina.

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Havia uma área expo onde os patrocinadores montaram seus stands, a única área aberta aos visitantes não inscritos como campuseiros. Porém, como ser bem relacionado é fundamental, acabei tendo acesso à área restrita aos campuseiros, interagindo com os mais variados tipos de internautas para trocar idéias, participar de debates, cursos e palestras, sentindo o clima do significado da Revolução Digital neste início de século: juventude, muita juventude e muita irreverencia também, o que não excluí aqueles que possuem o “R.G. baixo”.

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Na área expo havia um mirante pelo era possível uma visão panorâmica daquela imensa cidade internet. Esta visão fez com que eu me sentisse como se estivesse no set de filmagem de Matrix: intermináveis fileiras de computadores conectados, cada qual com seu respectivo internauta ali, entretido, numa verdadeira osmose wachovskyana, circundados por núcleos de debates temáticos, com a galera acomodada de forma bem descontraída,, semi-deitados naquelas mesclas de poltrona e almofada que nos anos 70 recebiam o nome de “puff’.

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Ali, naqueles sete días conviveram desde experts em informática e web até pessoas que jamais haviam sentado diante de um computador, já que uma das áreas mais ativas foi a do “batismo digital”, criada com função de inclusão social.

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Aquele clima neo-woodstock se reforçava ainda mais quando tínhamos a visão da área de acampamento, um verdadeiro mar de pequenas barracas padronizadas e organizadas onde os campuseiros se hospedavam.

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Entre os destaques podemos citar a robótica que todo o tempo chamava a atenção dos presentes com seus curiosos trabalhos, ou ainda a presença de indígenas internautas, os quais obviamente não perderam a oportunidade de fazer o seu marketing com suas pinturas, cocares e danças tribais, mas com o objetivo de mostrar que eles não são mais os “índios de 1500”, e que a sua cultura e suas etnias só sobreviverão se adaptarem-se e integrarem-se à cultura contemporânea globalizada cada vez mais na velocidade da Revolução Digital. Tanto que sua presença online vai além de MSN e orkut, mantendo sites e portais por eles desenvolvidos e construídos, com o objetivo de difundir e modernizar a cultura indígena na perspectiva da união e intercâmbio entre as dezenas de nações e etnias que ainda sobrevivem pela América Latina afora: http://webradiobrasilindigena.wordpress.com/ e também http://www.indiosonline.org.br/ .

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E ainda merece atenção a expressão artística verificada no design das CPUs levadas para o evento. Incrementados automóveis estilizados, caveiras, dragões, esculturas abstratas, muitos temas serviram de inspiração a artistas que desenvolveram gabinetes diferenciados para os seus computadores, incrementando o clima de diversidade cultural do evento, transformando determinados setores das extensas mesas de conexão em galerías de cyberarte.

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Como um banquete para sociólogos, planners e outros interessados mais, a experiencia do Campus Party leva-nos a refletir com profundidade o significado da Revolução Digital para as gerações futuras, além de, é claro, pensar sobre os múltiplos significados da Revolução Digital para os nossos hábitos, valores éticos e estéticos, conceitos de socialização, produção e tempo, entre varios outros.

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Douglas Gregorio – janeiro de 2009.

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