segunda-feira, 7 de abril de 2008

Reatorama & cultura - cinema: O BANHEIRO DO PAPA.

Uma história de ficção, mas baseada em fatos verídicos.
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Melo é uma pequena cidade uruguaia na fronteira com o Brasil, cuja população vive em alto grau de pobreza. Os poucos habitantes de situação remediada dedicam-se ao limitado comércio local com seus toscos botequins e vendinhas, mas a maioria dos cidadãos só possui uma única forma de ganhar um parco dinheirinho, que é integrar-se a um precário sistema de contrabando que abastece o pobre comércio local com artigos adquiridos em território brasileiro.
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Rudes, incultos e mal-ajambrados mas com um sentimento muito grande de amor e respeito aos familiares e amigos, os homens de Melo percorrem diariamente no mínimo 120 quilômetros de bicicleta, trazendo na garupa algumas poucas encomendas para os comerciantes locais.
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Como se não bastasse a labuta, o transporte precário e a penúria, eles ainda têm de enfrentar a corrupção dos serviços alfandegários que os obriga a fazer desvios por longos trajetos em terreno pantanoso para se livrar da fiscalização da guarda de fronteiras, bem como sofrem assédio moral e coação por parte de Meleyo, um corrupto funcionário público odiado por toda a comunidade de Melo, o qual persegue desafetos (geralmente aqueles que entraram e decidiram sair de seu esquema particular dada a excessiva exploração), destruindo-lhes a carga quando pegos ou ainda cobrando propinas, divertindo-se sadicamente em humilhá-los em público com xingamentos (especialmente aqueles que denigrem a moral das mulheres de suas famílias), e em tomar os produtos mais refinados que estão transportando, tudo sem que ninguém possa intervir, já que ele é a maior autoridade local no que diz respeito ao fisco.
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Um desses coitados que sobrevivem do precário contrabando é Beto, que sempre coloca a cabeça para funcionar na ânsia de encontrar uma saída para a situação. Sua filha adolescente sonha em ser jornalista e sua esposa trabalha arduamente como lavadeira-passadeira para juntar migalhas de dinheiro com o qual pretende custear os estudos da filha.
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No ano de 1998 é anunciado que o Papa João Paulo II, em visita à América Latina terá uma passagem de algumas horas em Melo, onde fará um discurso de saudação para o povo uruguaio.
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A mídia sensasionalista e os políticos começam então a explorar o fato supervalorizando-o, apresentando à população meras suposições ou mesmo inverdades na exagerada tônica de que a visita do Papa seria um marco na história uruguaia e o pontapé inicial de uma época de desenvolvimento e fartura - um absurdo.
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O povo de Melo, esperançoso e sensível a estas falsas promessas juntam suas parcas economias ou mesmo se endividam para investir no evento, montando barracas de lanches, lingüiças, lembrancinhas, bandeirolas e todo tipo de bugiganga que pudesse ser comercializada junto à multidão esperada, a qual o governo e a mídia calculavam que seria entre 30 e 50 mil pessoas – obviamente superestimada.
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É aí que Beto tem uma brilhante idéia – todos estavam preocupados em oferecer à multidão o atendimento às necessidades básicas (especialmente a alimentação), mas ninguém havia tido a idéia de oferecer outro serviço essencial que seria tão escasso quanto necessário durante o evento: o acesso a sanitários.
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Eis então a questão central do filme: os esforços e as desventuras do pobre homem simples Beto, que volta todas as suas energias materiais e psíquicas para a realização do seu projeto, a construção de um pequeno banheiro público por cujo uso cobraria.
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Beto tinha a mesma esperança de todos, que apostavam no retorno supermultiplicado dos seus investimentos que apesar de modestos, representavam uma situação de "é tudo ou nada", dada a carência extrema da comunidade local.
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As falsas informações veiculadas pela mídia sensacionalista e manipuladora e o discurso politiqueiro do governo uruguaio inculcaram nos desvalidos cidadãos de Melo a falsa impressão de que o retorno do investimento seria garantido, e que Melo seria uma nova cidade depois daquele dia, se não rica, pelo menos a qualidade de vida seria mais elevada e não mais dependeriam daquele precário sistema de contrabando.
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Repleto das trapalhadas hilárias de Beto, mas sem deixar de lado o tom sério de denúncia da penúria e da falta de ética dos políticos e dos meios de comunicação, assim transcorre a trama de “O Banheiro do Papa”, cujo desfecho é carregado da mesma ambigüidade comédia–drama que aparece ao longo deste filme que, é claro, está longe de ser uma superprodução, mas não deixa de entreter com qualidade.
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Título Original: El Baño del Papa
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (Brasil / Uruguai / França): 2007
Estúdio: O2 Filmes / Laroux Cine / Chaya Films
Direção: César Charlone e Enrique Fernández
Roteiro: César Charlone e Enrique Fernández
Produção: Elena Roux
Música: Luciano Supervielle e Gabriel Casacuberta
Fotografia: César Charlone
Direção de Arte: Ines Olmedo
Figurino: Alejandra Rosasco
Edição: Gustavo Giani

Elenco: César Trancoso (Beto), Virginia Mendez (Carmen), Virginia Ruiz (Sílvia), Mario Silva (Valvulina), Henry de Leon (Nacente), Jose Arce (Tica), Nelson Lence (Meleyo), Rosario dos Santos (Teresa), Alex Silva (Gordo Luna), Baltasar Burgos (Capitão Alvarez), Carlos Lerena (Soldado).

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Douglas,

Por meio deste seu comentário fiquei curiosa e resolvi assistir a tal filme. Realmente alterna momentos de riso e tristeza, nos prende a atenção e vale a pena.
Parabéns pela narrativa muito precisa e convidativa para o filme!

Marcia