segunda-feira, 9 de julho de 2007

FAITH POPCORN, TED NELSON E A COMUNICAÇÃO DIGITAL.

A Nostradamus do marketing - Em 1991, Faith Popcorn entrou para a história internacional do marketing ao publicar seu relatório, o qual tornou conhecido o conceito de cocooning (em inglês, encasulamento).

Apelidada de a Nostradamus do marketing, Popcorn tornou-se referência para profissionais de propaganda e marketing no início da década de 90, algo semelhante ao que Jon Steel representa para os planners hoje – uma referência universal.

As previsões de tendências de Popcorn hoje aparentam ser de uma ingenuidade tamanha que julgamos ser o sucesso de suas teorias apenas um grande case de marketing bem sucedido. Porém, talvez não sejam.

Ainda não podíamos falar de informatização pessoal e de Internet como fenômeno de massa naquela época, e este fator, o qual consolidou-se somente no final dos anos 90 como revolução, fez com que os conceitos e percepções da realidade mudassem tanto e de forma tão rápida que mal percebemos estar mergulhados na realidade prevista por Popcorn há quase vinte anos atrás.

Encasulamento, o que é? - Voltando ao cocooning, só para não deixar esta citação perdida sem explicação, trata-se fundamentalmente da tendência da busca pela proteção em nossa sociedade contemporânea, na qual viveríamos em casulos que impediriam o contato direto com outras instâncias sociais como o casulo armado, nossa casa e o casulo nômade, o automóvel.

Seria Popcorn uma pensadora original? - Nunca tive a oportunidade de desenvolver um estudo sistemático das idéias de Popcorn, mas percebo que ela foi antecedida na história nos primórdios do capitalismo a partir da burguesia na Europa do século XVIII; por exemplo, vejamos a arquitetura burguesa nas relíquias coloniais brasileiras como Parati e Olinda. Os solares apresentam paredes bem grossas cujas janelas têm parapeitos que se estendem por mais de meio metro, afunilando-se até uma abertura sempre pequena que lembram ameias de fortalezas.

A egonomia e o consumidor de hoje: A egonomia fala sobre a produção personalizada das mercadorias individualizadas. Vejamos a campanha que está na mídia do Banco do Brasil – Banco do João, Maria, Paula, Edson etc. como um exemplo bem pertinente desta previsão. Marcello Magalhães, planner da Giovanni, em sua palestra no Top de Planejamento 2007 falou que hoje as marcas são mais sensíveis e, ao invés de bombardear a cabeça do consumidor impondo um padrão de desejo e impulso de consumo, procura aproximar-se e entender cada consumidor para oferecer justamente aquilo o que ele procura.

TED NELSON – o cocooning na Internet e a via da libertação. O pai do hipertexto, o filósofo americano Ted Nelson olha com desconfiança para os atuais conceitos de informática. Ele os considera limitadores das possibilidades oferecidas pelos computadores.

Para Nelson, os treinamentos de informática nada mais são que a transmissão de determinadas convenções impostas pelos líderes do mercado de informática.
As várias possibilidades de se criar, por exemplo, um editor de textos ou um navegador com funções e ferramentas completamente diferentes das apresentadas pelos dos sistemas mais utilizados – Macintosh e Windows – nem de longe passam pela cabeça dos usuários da atualidade, excluindo-o do verdadeiro espírito da revolução digital.

Programar ou utilizar – a troca: Nos primórdios da informatização, os modelos comercializados podiam ser limitados em termos de velocidade e armazenamento, porém, conferiam ampla liberdade ao usuário na medida em que este podia PROGRAMAR, ou seja, criar em seu computador pessoal funções e ferramentas personalizadas sem a ajuda de nenhum profissional especializado. Hoje, o direito de programar tornou-se monopólio de especialistas. Trocamos com este direito por uma arquitetura organizacional de dados baseada em arquivos fechados, ou ainda por um pacote de funções desenvolvidas para adaptar-se a quaisquer tipos de serviços, mas tudo polivalente, pensado para atender não à necessidade pessoal de cada um, mas sim adaptar esta necessidade às ferramentas disponibilizadas.

Lembro de um amigo que desde o final dos anos 70 vivenciou jóias como o XT, monitor de fósforo monocromático e o wordstar... e hoje mantém em seu home office dois computadores de última geração, e, pasmem: apesar de ter a seu dispor máquinas formidáveis não abriu mão do seu XT, nem de sua impressora matricial porque nele desenvolveu um programa fundamental para administrar os contatos comerciais de sua empresa, e por mais que explore versões mais recentes do pacote Office da Microsoft, não consegue encontrar ferramenta ou função que lhe garanta sequer resultado aproximado.

Popcorn e Nelson – o paralelo.
Acredito que com o auxílio da versatilidade do nosso raciocínio podemos estabelecer um paralelo entre as previsões de Popcorn e as preocupações de Nelson.
A situação talvez seja mais agressiva do que percebemos em nosso estressante cotidiano. Usando aplicativos deixamos de reter nossos próprios dados no universo informatizado já que os donos dos sistemas como a Microsoft ou a Apple tornaram-se proprietários dos dados possíveis de serem operacionalizados na informática praticada hoje em dia.
Quando podíamos programar, fazíamos o que queríamos em nossos computadores pessoais; hoje, precisamos pagar a eles pelos aplicativos, e pior: não para fazer o que queremos, mas para adaptar o que queremos ao que eles nos permitem fazer. Assim, parece que em busca de segurança – a segurança de estar integrado ao universo digital permite viver identidades e possibilidades que, apesar de virtuais, alimentam a perspectiva que Popcorn chamou de aventura da fantasia – sair do casulo mas de modo seguro – fazendo com que contraditoriamente à tendência da egonomia recaíssemos num casulo virtual dos sistemas operacionais e aplicativos.
Os planners e as perspectivas estratégicas: Tais reflexões são fundamentais para a compreensão do comportamento do consumidor, uma vez que implicam em se pensar, rever e mesmo prever as tendências da estética, dos conceitos de tempo e velocidade, dos conceitos de entretenimento entre outros, e a dinâmica com a qual podemos nos deparar no processo da vivência social da economia de mercado, e entender qual o papel da comunicação publicitária diante disso.

Trata-se de um projeto de construção intuitiva de um conjunto de perspectivas mais que estratégicas, fundamentais para o sucesso dos projetos publicitários que estamos desenvolvendo para os nossos clientes e suas bases teóricas e práticas. Provavelmente poderemos, assim como fez Popcorn, prever as tendências futuras do comportamento social e, no que diz respeito à nossa função na cadeia de produção publicitária, garantir que estejamos acompanhando a dinâmica comunicativa desta complexa sociedade contemporânea para o sucesso e garantia de satisfação dos nossos clientes.

THEODOR HOLM NELSON nasceu em 1937 nos Estados Unidos, graduado em sociologia e filosofia, criador de termos como hipertexto, hipermídia, hiperlink, transclusão e virtualidade. Seu trabalho é focado na busca da acessibilidade dos computadores a todo e qualquer tipo de pessoa, e sua principal máxima é:
Uma interface para um usuário deveria ser tão simples que um iniciante, numa emergência, deveria entendê-la em 10 segundos.
FAITH POPCORN é graduada pela Universidade de Nova York, e atuou com destaque na área de criação publicitária em agências antes de abrir em 1974 sua empresa, a BrainReserve consultoria, vindo a notabilizar-se perante o mundo com a publicação de O Relatório Popcorn em 1991. Atua com branding e new business, e atende a clientes como a Nissan, Procter & Gamble, American Express entre outros.

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