segunda-feira, 9 de julho de 2007

TEMPO VIRTUAL E PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO - um esboço sobre a publicidade na perspectiva quântica.

A realidade em que vivemos é dinâmica, cheia de nuances e inovações que apresentam novidades e revoluções a cada dia. Surpresas, catástrofes e benesses se revezam num intrincado quadro sem sentido, cuja leitura só é possível na medida do envolvimento e da contraposição entre as sensações individuais e coletivas. Com isso então, qual o significado de se planejar comunicação?

Desde o Mirc até o Second Life, o advento do mundo virtual talvez seja a forma mais representativa desta realidade, onde poucas vezes paramos para pensar no significado da palavra tempo, exceto quando o dinheiro é comprometido, já que ninguém discorda de que tempo é dinheiro.

Costumamos entender por tempo a noção que temos de compreender a interação entre presente, passado e futuro.

Vejamos o que José Leite Lopes nos fala a respeito do tempo virtual: “(...)O vácuo, o espaço físico vazio, contém diagramas fechados de pares que se criam e se aniquilam. Assim, o espaço-tempo é um sistema dinâmico complexo, com uma infinidade de ciclos, portanto de matéria virtual. É desse estado de “gravidez” que nascem partículas novas, produzidas quando lhe injetamos energia suficiente, por isso há interesse nos aceleradores capazes de produzir altas energias.[1]

Os nossos antepassados que dependiam da agricultura contavam o tempo através das estações do ano, do amanhecer e do entardecer. Na idade média, o tempo passou a ser ditado pelo perfeccionismo produtivo dos artesões. Com a Renascença, o boom científico permitiu o desenvolvimento da tecnologia alavancando assim a industrialização do tempo nos séculos seguintes; mecanizado o tempo, organizaram-se as tabelas e adquiriu-se o hábito de andar com uma máquina portátil de contagem de tempo, primeiro no bolso e depois fixada ao pulso, uma idéia do célebre brasileiro Santos Dumont. Com a indústria surgiram as grandes metrópoles, e com elas, os conceitos de horário comercial, vida noturna, tempo útil (produtivo), e o descanso, intervalo para recomposição física e mental.

Hoje, ao encurtar distâncias e agilizar a comunicação o mundo virtual alterou substancialmente este o de tempo. Parece já não haver tanta distinção entre dia e noite, tempo produtivo e descanso.

O próprio homem virtualizou–se e pode assumir ao mesmo tempo as mais diversas personalidades, e fazer coisas que até antes eram impossíveis.

Sua animalidade foi deixada de lado. Parece que ele não dorme mais, não se alimenta, não distingue o tempo de trabalhar e o tempo de descansar.
Os limites nacionais, as barreiras de cultura e idioma se minimizam no mundo virtual.

Como planejar comunicação dentro desta realidade virtual?

Ao mesmo tempo em que temos uma dispersão de nossos agentes receptores com a multiplicidade de nicks, também temos a concentração dos nichos de interesse.

Estes nichos alinhados em estatísticas gráficas compõe a famosa long tail, a longa cauda de pequenos ícones que se alinham uns ao lado dos outros, fazendo com que pelo menos por hora possamos visualizar o nosso target.

Não nos preocupamos mais em que dia e em que hora estes potenciais consumidores estarão entrando em contato com a mensagem publicitária – ela tem que estar no ar, atualizada 24 horas por dia, sete dias por semana – adeus ao tempo.

Não podemos prever a qual momento eles entrarão em contato com a nossa mensagem, já que a variabilidade de comportamentos é imensa.

Vamos retomar algumas resoluções do “Top de Planejamento 2007” – planejar publicidade é fazer com que a marca aproxime-se do consumidor e perguntar o que o agrada – e não o contrário como vinha sendo até então. Planejar implica em comprar o tempo das pessoas, pois para que elas dediquem tempo à sua mensagem alguma compensação vão exigir, e quanto mais valor você der a este tempo, mais os consumidores vão se interessar por dedicá-lo à você.

Estes sujeitos múltiplos e fragmentados só deixarão tocar-se pela propaganda na medida em que ela não for invasiva – tal qual o irritante telemarketing ativo – e envolver os seus consumidores respeitando-os em seus interesses.

Refletindo sobre estas colocações, vamos retomar então aquela citação de Leite Lopes a qual ficou sem sentido: o vácuo, o espaço físico vazio contém diagramas de pares que se criam e se aniquilam – aqui temos o consumidor que ocupa o vazio de seu tempo real (e portanto físico) com sua liberdade e probabilidades de diagramas virtuais da web a partir da qual os pares – personalidades múltiplas – se criam e se aniquilam ao bel prazer da utilização do tempo pelo consumidor que quer ver-se envolvido nesta realidade que é líqüida na medida da adequação do envolvimento ao qual cede, seguindo a diretriz de seu prazer.

É este tempo que o publicitário de hoje busca comprar, e é por isso que as marcas devem se aproximar e sentir este consumidor não de forma invasiva, mas envolvente. Uma infinidade de ciclos, esta matéria virtual líquida.

Comunicar nesta perspectiva é o mesmo que injetar energia suficiente, fecundar e refecundar este estado de gravidez que gerará novas partículas.

O desafio do comunicador então é tornar-se aquele acelerador capaz de produzir altas energias.
[1] - Lopes, J. L. TEMPO = ESPAÇO = MATÉRIA in Novaes, A. (org.). TEMPO E HISTÓRIA. Cia. Das Letras, São Paulo 1992, págs. 167 a 175.



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