segunda-feira, 30 de julho de 2007

A arte de Alcides Pereira

Alcides Pereira dos Santos nasceu na Bahia em 1932, mas migrou para Cuiabá na mocidade. Teve inúmeras profissões e foi aluno de Dalva de Barros no Atelier Livre da Prefeitura de Cuiabá, montado em meados dos anos 70 de onde saíram os principais nomes atuais das artes plásticas mato-grossenses. É um artista único dentre os pintores populares brasileiros, por fazer um trabalho que não descende de nenhuma das vertentes tradicionais que os inspiram: a história em quadrinhos, a ilustração e a fotografia. Alcides vem de uma linguagem "estradeira", que se manifesta nas imagens de paralamas de caminhões, nas placas de propaganda dos mais remotos recantos do território brasileiro. É um artista que tem um certo parentesco com os da escola Pop.
Por uma triste coincidência veio a falecer no último dia 05 de julho, dia em que foi aberta uma exposição de suas obras na Estação São Paulo, http://www.galeriaestacao.com.br/ . As obras podem ser apreciadas até 29 de setembro.

SOBRE O AVESTRUZ ESNOBE.

Foi publicada no blog do Grupo de Planejamento de São Paulo uma postagem intitulada A Síndrome da Avestruz Esnobe, na qual foi debatido o resultado de uma pesquisa da FNazca/Datafolha sobre qual seria a banda, cantor ou cantora mais ouvido do Brasil, e o resultado foi a banda popular Calypso[1].

Recordo-me de quando eu era adolescente no começo dos anos 80. Dada ocasião fiquei impressionado quando vi um pôster da dupla Chitãozinho e Xororó. Nele, os caipiras - o termo sertanejo era muito erudito para a época, além do sentido diferente do atual - apareciam num de seus shows utilizando iluminação especial com holofotes coloridos eletronicamente controlados e explosões de fumaça, palco triplo dividido em andares; perguntei-me se era mesmo uma dupla caipira ou uma banda de rock pesado.

Em meus artigos insisto pela importância do feeling no planejamento de propaganda justamente porque tenho observado fenômenos como o citado no blog do GP, paradoxais a princípio, mas logicamente compreensíveis se acionarmos em nosso feeling, deixando-nos envolver nesta nova lógica não mecânica na análise do comportamento do consumidor contemporâneo.

As classes sociais, sim elas existem, e talvez existirão sempre, e isso significa que terão suas características comportamentais próprias, inclusive enquanto consumidores, mas a partir daí apegar-se radicalmente a instrumentais ditos científicos para traçar previsibilidade dos resultados de um plano de comunicação pode ser muito arriscado.

A ESPM, Vaticano da Publicidade no Brasil percebeu isso há certo tempo. Tenho acompanhado os workshops promovidos para o debate sobre os novos paradigmas da comunicação contemporânea.

Em junho de 2006 ela promoveu o Encontro de Publicidade e Pós-Modernidade, com a presença de Michel Maffesoli, sociólogo francês de renome internacional. Neste encontro, o prof. Clóvis de Barros disse que (...) a sociedade pós-moderna exige um discurso de auto-definição menos monolítico, menos permanente e menos coerente do ponto de vista racional. É uma sociedade que “pune” menos as oscilações de apetite e, de alguma maneira, as mudanças de estratégia no comportamento social [2].

A incoerência entre as bases teóricas das ferramentas dos planejadores e o comportamento dos consumidores da atualidade nos causam perplexidade, a qual poderemos superar e desenvolver propaganda de sucesso se passarmos adiante de nosso espanto.
Sem estrelismo na mídia e sem trazer em seu conceito as consideradas características de um produto top de linha (ou seja, qualidade), a banda de neoforró Calypso é o produto de entretenimento musical mais consumido no Brasil, trespassando todas as classes sociais.

Então, precisamos refletir – o que é qualidade?

Qualidade é aquilo que existe no tema de abertura da principal novela da Globo, líder absoluta de audiência que também trespassa todas as classes? Ora, os temas de abertura das novelas em quase todos os casos são escolhidos entre a mais fina flor da elite da música que é chamada de popular brasileira.

Esperem, onde estamos? O que estávamos debatendo? Neoforró populacho como sucesso absoluto, e na novela música de altíssima qualidade consumida pelo mesmo público do Calypso? Que quebra-cabeças é este?

Conheço pessoas (observem que estou utilizando plural) que a despeito do diploma universitário que sustentam, das suas profissões e cargos que exigem apurada formação cultural ou de sua alta posição na pirâmide social trocam Veja por Minha Novela, trocam a Discovery pelo Domingo Legal do Gugu, trocam Abril Despedaçado por Deby e Lóide, e não sentem nenhum constrangimento em admitir isso publicamente, muito pelo contrário, não raro referem-se com desdém a consumidores da relação inversa.

Assim sendo, encerro dizendo que não se pode simplesmente abandonar as ferramentas tradicionais com as quais planejamos propaganda, mas hoje em dia é muito arriscado inferir que, se o consumidor vive em bairro nobre em casa própria com mais de cinco quartos com banheiro, se ele possui mais de um carro importado, se ele é graduado e pós-graduado em universidade de primeira linha em país de Primeiro Mundo, este consumidor não trocará Edu Lobo por Wagner Rossi The King – o risco de desperdiçar o dinheiro do anunciante pode ser grande.

E é aí que o feeling torna-se muito importante para o planejador, e não mais se planeja baseado somente em pesquisa e dados estatísticos, mas torna-se fundamental estar próximo ao consumidor e senti-lo.

[2] Filho, Clóvis de Barros in: Revista da ESPM, vol. 13, edição nº 05, setembro/outubro de 2006, p.41

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Agora, arte!

Gato, por Marcelo Vilela.
Artista plástico, DJ, ator de teatro e cinema e produtor cultural, Marcelo Vilela é muito conhecido no underground paulistano. Foi um dos maiores expoentes do movimento Gótico New Romantic nos anos 80 tendo sido um dos principais nomes ligados ao Madame Satã, a famosa casa noturna, templo do movimento.
É diretor do salão de beleza Engenharia do Corte onde desenvolve além do coiffeur clássico e cotidiano também o coiffeur de vanguarda, com forte influência do gótico e do punk. Pelo "Engenharia" já passaram celebridades como o ex-guitarrista da banda The Sisters of Mercy atualmente na banda The Mission, Wayne Hussey, e a americana Divine Brown que ficou famosa pelo incidente que envolveu o ator de Hollywood Hugh Grant.
Trabalhando com uma técnica que utiliza materiais recicláveis, seus temas englobam desde elementos da cultura tropicalista, passando por ícones místicos do imaginário cosmopolita até elementos do erotismo contemporâneo e releituras de culturas tribais que compõe a etnia brasileira e o punk.
No seu uso de cores, percebe-se aí forte influência da New Wave dos anos 80 e também da abordagem visual de Andy Wharol.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

CHEGAMOS AO REATORAMA!

Caros amigos

O que você vê a partir de agora foi fruto de um trabalho feito a várias mãos.
No espírito da comunicação digital, muitas destas mãos foram anônimas, porém não menos importantes.
Assim, agradeço a todos os que acharam valer a pena participar.

REATORAMA - o que significa?

Nada - é um neologismo... mas... nada? Nada não. É claro que ele tem um significado, o qual está sendo construído neste processo contínuo.
REATOR - a origem das energias.
RAMA - sufixo de origem indígena, que indica condição futura.
RE - ATAR - uma nova ligação.
REATA... e AMA!
Reagindo NO AGORA para o FUTURO.

Participe da construção do significado de REATORAMA.

O que significa este logo?


Ele surgiu a partir do seguinte conceito: o cérebro em funcionamento, do qual brotam as idéias, para o alto e para a frente.
A percepção do logo a partir de vários amigos que colaboraram foram muito diversas, mas o importante é que a maioria delas pautou-se pela idéia de fecundação do óvulo.
A fertilidade das idéias - uma das coisas importantes no espírito de REATORAMA.
E O QUE VEM POR AÍ EM REATORAMA?
Existem algumas idéias que podem ser postas em prática. Uma delas é a de, além de ser o que já é, também ser um espaço onde os artistas podem expor os seus trabalhos, sejam eles como forem: imagem, filme, música, literatura, seja o que for.
Outra idéia é a de se criar por aqui um BANCO DE CURRÍCULOS de planejadores.
Fale conosco e colabore com idéias para incrementar o Reatorama.

PLANEJAR NÃO É A ENGENHARIA DA PROPAGANDA. ENTÃO, O QUE É PLANEJAR?

Uma reflexão sobre “Nova Ciência, novo modelo, nova propaganda” de Jon Steel*.
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No Top de Planejamento deste ano de 2007, um colega colocou com bastante propriedade que a propaganda hoje não funciona mais como um “pregão de feira livre” onde vende aquele que consegue bombardear mais a cabeça do consumidor impondo marcas, ganhando quem grita mais alto. Este é um modelo no qual as marcas falam de sí para o consumidor.
Buscar modelos de como planejar propaganda é uma prática intensa entre os planejadores que normalmente trocam entre si estudos de cases de sucesso.
A cadeia produtiva da propaganda espera dos planejadores a previsibilidade de resultados, a certeza de estar atuando num futuro case de sucesso. Nada há de errado nesta mentalidade, exceto impor aos planejadores a responsabilidade total sobre o resultado final de uma campanha. Pressionados, buscam modelos calcados em procedimentos mecânicos que lhes dê segurança de atuação. Agindo assim passam a acreditar que estão trocando uma insegura aposta na sorte pela segurança de um resultado calculado.
Esta mentalidade exige auto-crítica – é impossível encarar o planejamento como se ele fosse igual à engenharia, que usa ciência e técnica para desenhar uma planta a partir da qual se constroem máquinas que garantem os resultados almejados.
Não é assim que se atingem os objetivos de um briefing.
É impossível planejar ignorando, em nome da técnica, a multiplicidade de variáveis e significados que surgem da percepção de uma campanha pelos consumidores, criando a ilusão de padrões de reação genéricos aplicáveis conforme classe e nichos. Os planejadores seriam no mínimo ingênuos se acreditarem que a partir da análise de uma série de cases de sucesso podem localizar a repetição de coincidências e criar uma “lei científica” aplicável à propaganda.
Como bem diz Jon Steel, “Em geral as melhores soluções publicitárias surgem do caos aparente”.
A propaganda deve compreender que ela se dirige a pessoas, e pessoas são de forma isolada e coletiva elementos extremamente complexos em suas reações, o que nos impede planejar propaganda como engenheiros planejam máquinas.
Há um restaurante de sucesso muito tradicional em São Paulo, o Sujinho, conhecido por servir a melhor bisteca paulistana. Qual planejador seria louco o suficiente para propor a um anunciante a associação de sua marca à sujeira, ainda mais no segmento alimentício?
Ainda em São Paulo há (ou houve) outro bar que ficou conhecido por ser freqüentado por pessoas que queriam desabafar dores de traição amorosa. Consolidada a tradição, foi apelidado de “Bar do Corno”, e começou a atrair curiosos e pessoas no perfil descrito, virou sucesso.
O negócio ia muito bem até o proprietário começar a investir nesta identidade institucional, começando pela reforma da decoração que explorou a fartar o ícone dos chifres. Passado algum tempo, precisou rapidamente refazer a decoração, desassociando o bar desta imagem sob risco de falência.
Ao planejar não podemos ignorar o fator sorte, e bons planejadores devem treinar o máximo possível seu feeling para perceber aquelas oportunidades que ocorrem uma única vez, e lançar a campanha no momento certo, nem antes, nem depois.
Jon Steel citando Chris Heath diz: "não são os planos imaginados que fazem a diferença, é a habilidade com a qual você usa os acidentes".
Então quer dizer que o trabalho dos planejadores é semelhante ao de médiuns que usam a intuição e desprezam o racional? Não, não se trata se simplificar as coisas desta forma, mas os desdobramentos dos novos modelos de propaganda são assunto para várias outras reflexões e estudos.
Fiquemos com a orientação de que a propaganda deve procurar aproximar-se das pessoas e senti-las, entendê-las não na perspectiva da busca de um modelo universal, mas acompanhando o consumidor como parceira, atendendo-o em cada uma de suas múltiplas nuances comportamentais, nem sempre lógicas.

* Steel, Jon. VERDADES, MENTIRAS E PROPAGANDA . Negócio Editora – págs. 23, 24, 25 e 26.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

DIÁLOGOS BAHIANOS.

Os “Diálogos Bahianos” surgiram do intercâmbio e debates que têm ocorrido em interlocução com meu amigo Júlio César, planejador que atua numa das principais agências do mercado bahiano.


Parte 1 - A cachaça e o Cristo Redentor.
Júlio sugeriu explorar o documentário "Inside Saatchi & Saatchi: A Spirited Case Study", de 40 minutos, que fala de uma campanha veiculada na Inglaterra para o lançamento da cachaça Sagatiba por lá. O documentário foi veiculado na BBC e só no Reino Unido foi visto por mais de 2,5 milhões de pessoas.

Caro amigo Júlio
Há mais ou menos uma década que o mercado brasileiro de bebidas discute e desenvolve idéias buscando internacionalizar a cachaça, e para tanto ela deve ser revestida de status de bebida requintada. Vejamos o exemplo de marcas e embalagens de cachaça que têm surgido de alguns anos para cá. Ademais não é novidade para ninguém que o próprio governo brasileiro e os produtores de cachaça há anos se esforçam para desenvolver o conceito de cachaça tipo exportação.

Dentro do Brasil é difícil desvincular culturalmente o conceito de cachaça do estereótipo de bebida rústica, consumida por pessoas de limitado nível sócio-econômico e cultural - na linguagem dos publicitários, as classes C e D, ou ainda, as classes populares.

Torna-se inusitado pensar numa marca de cachaça exposta na prateleira de um bar no lounge de um hotel de alto nível colocada ao lado de outras marcas consagradas de uísque, licor, vodka, conhaque, brandy, gin e outras.

Cavalinho, Pitu, 51, Tatuzinho, Velho Barreiro entre outras, fazem com que nosso imaginário imediatamente nos remeta à imagem do boteco em que os apreciadores de drinks divertem-se jogando bilhar em mesas acionadas a fichas que custam um real ao lado de outros que entusiasmados curtem uma peleja de dominó, tudo animado pelo som de um CD pirata adquirido na banquinha clandestina da feira-livre que faz os corações palpitarem na melodia do último sucesso de uma das principais duplas sertanejas do momento.

Muito se fala sobre a tequila mexicana que tinha este mesmo significado cultural que a nossa cachaça tem por aqui - birita rústica de pobre – porém, depois de um processo dentro do México que serviu de inspiração ao que está se tentando fazer aqui com a cachaça, foram criadas marcas para serem consumidas pela elite e se transformou em produto de luxo para exportação.

Cabe lembrar que tanto o scotch uísque assim como o uísque de milho, o bourbon americano, anos atrás eram bebidas tão rústicas quanto a imagem que temos da cachaça. Hoje há marcas que chegam a conquistar “selo real” atestando alta qualidade.

Certa vez visitei uma feira vinícola onde havia participação em menor grau de produtores de outros tipos de bebidas. Lá eu vi uma série de fotos divulgadas por uma destilaria escocesa, mostrando a cerimônia de atribuição do selo real pelo príncipe Charles em pessoa, inclusive trajado com a kilt, a famosa saia masculina com estampa xadrez, dirigindo todo um cerimonial que incluía lances de se provar ritualisticamente o uísque, quebrar a taça, fazer rolar um barril e quebrá-lo, espalhando a bebida pelo chão da adega como uma espécie de batismo.

Claro que isso era interessante ao governo britânico: qual o valor internacional de um uísque legitimamente escocês que leva um selo de qualidade conferido pela corôa britânica em cerimônia presidida pelo príncipe em pessoa?!

Sabia Júlio que originalmente Johnnie Walker era uma marca de... CHÁ? Isso mesmo, John Walker era um profissional "blender", isso é, tinha o olfato supertreinado para classificar e selecionar tipos e tipos de ervas para chá; na primeira metade do século XIX quando então tinha quinze anos herdou um pequeno capital da família o qual investiu num pequeno comércio, um armazém de secos e molhados, onde comercializava principalmente diversos tipos de chá e onde se servia o drink preferido dos escoceses, obviamente, o uísque... ou seja, John Walker abriu um simples boteco.

Percebendo que o uísque produzido e consumido naqueles tempos na Escócia podiam muito bem levar marcas como Mud Elder, Small Horse, Fifty-One, Small Armadillo, Big Shrimp etc., e percebendo que alguns tipos de uísque eram mais procurados que outros, teve a idéia de aplicar seu know-how de blender de ervas para chá aos maltes para uísque... todos nós sabemos qual foi o final da história, construída por John Walker e seus descendentes... sai uma Joãozinho Caminhante aí...

Temos então um case de sucesso em que um empresário acreditou na possibilidade de refinamento de uma bebida rústica.

Considerando então a história do uísque e a história da tequila, por que então não podemos pensar na cachaça tipo exportação, na exótica caipirinha sendo servida nos refinados bares da Europa?

Bem meu caro Julio, se você quer saber mesmo a minha opinião sobre o case da Saatchi e Saatchi londrina, o lance é: louca a campanha né?!

Acredito que no Brasil a campanha seria inviável. Nem a Igreja e nem o Estado iriam engolir a associação da cachaça com um símbolo religioso. E ainda é preciso considerar a questão dos interesses de mercado que vão decorrer da recente escolha do Cristo Redentor como uma das maravilhas do mundo.

Quanto à criatividade da campanha, bem, em se considerando tratar-se de europeus, foi muito bom porque no Brasil Joãozinho Trinta há muitos anos já utilizou a imagem do "Cristo Vendedor".
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NOTA DO AUTOR - Uma curiosidade sobre a origem da marca de cachaça 51:
Recentemente a Sociedade Esportiva Palmeiras obteve sucesso junto à FIFA para que o título de campeão da Copa Rio conquistado no ano de 1951 fosse reconhecido como o primeiro obtido num torneio mundial interclubes na história do futebol. E a origem da marca 51 tem profunda relação com esta questão.
Na época, uma família de italianos do interior paulista, torcedores fanáticos do Palmeiras, administravam uma destilaria. Com o título criaram a marca que tinha formato original de Palmeiras 51.
Anos depois a destilaria foi vendida, e com ela a marca, que foi transformada em Pirassununga 51, com direito à sutil brincadeira ortográfica, pois sabemos que a gramática oficial do português brasileiro obriga o uso de cedilha na grafia de palavras de origem indígena.

Veja o trailer do documentário:
http://www.filmsmediagroup.com/id/12041/Inside_Saatchi_and_Saatchi_A_Spirited_Case_Study.htm


Parte 2 – A Disneyworld dos Planejadores.
Nesta ocasião Júlio sugeriu o debate sobre o artigo de Rita Almeida que comenta a questão dos blogs de planejadores, publicado pelo jornal Meio & Mensagem nº 1255 de 23 de abril de 2007; nele Rita Almeida questiona o real valor dos blogs como fonte de referência teórica para os planejadores e ainda faz um paralelo entre as práticas das gerações de planejadores que vieram antes e depois do advento da Internet.

Olha Júlio, eu não sei se a percepção que você tem da minha pessoa é a mesma ou pelo menos semelhante à percepção que tenho de mim mesmo como planejador e blogueiro.

Tomando como referencial as idéias debatidas por Rita Almeida, percebo-me como alguém que ficaria no meio de campo da polaridade por ela apontada, entre os planejadores pré e pós Internet.

A minha origem é acadêmica. Tive uma juventude de barata de biblioteca, fui professor, candidato a intelectual que um belo dia cismou que deveria seguir um outro caminho, e fui para a publicidade.

Os planejadores no meu entender são a parte intelectual da agência, a "intelligentsia", aqueles que se preocupam com a ciência da comunicação e lançam pelo menos em parte as bases teóricas para o trabalho das duas instâncias posteriores do processo de produção publicitária – criação e mídia – e conta com tremenda colaboração da instância anterior, o atendimento. Tudo, obviamente, numa perspectiva de interação e troca.

Em geral os planejadores cada qual a seu modo e estilo são muito compenetrados, cultos, informados, letrados...

Quando estou na agência desenvolvendo um projeto complexo é fácil para os colegas perceberem.

Na primeira fase eu fico andando de um lado para outro solitário, olhando para baixo, com a mão no queixo como uma versão ambulante d’O Pensador de Rodin por tempo inderteminado, exceto pelo dead line

Então, quando me canso de andar chega hora de sentar e começar a escrever, ainda solitário e concentrado.

Quando então o primeiro boneco do projeto fica pronto, começa o estardalhaço: é hora de distribuir uma cópia para todo mundo e agendar a apresentação/apreciação/discussão interna do plano.

Assim como a cara das universidades mudou com o advento da internet, a cara dos planejadores também mudou, já que seguem até certo ponto o modelo dos pesquisadores universitários.

Assim como hoje a internet provoca uma revolução nos mais diversos conceitos, o planejamento não poderia escapar disso.

É claro que a cara das novas gerações de planejadores é bem distinta da antiga geração. E não poderia deixar de ser diferente.

Caro amigo Júlio, se você já analisou meu blog perceberá que sou um ser híbrido entre a antiga e a nova geração, uma "barata de biblioteca digitalizada"

Bem, se você queria uma apreciação ao artigo sugerido, ei-la... cara, muito legal isso: a troca, estamos trocando know-how, expertise, informações, opiniões... valeu soteropolitano!

Leia o artigo completo de Rita Almeida:
http://www.meioemensagem.com.br/novomm/br/Artigo.jsp?id=701
1º SEMINÁRIO DE PESQUISA DO CENTRO DE ALTOS ESTUDOS EM PROPAGANDA E MARKETING DA ESPM.

O evento aconteceu nesta última quinta-feira, 28 de junho, e foi composto de um painel onde pesquisadores ligados ao Centro apresentaram relatórios sobre o andamento de suas pesquisas.

Foram diversos painéis os quais acompanhei com prazer e interesse, todos eles com assuntos os quais com certeza enriquecem minha cultura pessoal e acadêmica, bem como alimentam e atualizam o preparo profissional.

Porém, considerando a temática deste blog – planejamento estratégico de comunicação – selecionei segundo os critérios desse foco duas exposições para tecer meus comentários nos dois posts que seguem abaixo.

MODELOS E ESTRATÉGIAS PUBLICITÁRIAS NO CYBERESPAÇO.

Apresentação defendida pelo Dr. Vinícius de Andrade e pela Ms. Andréa Hecksher, professores da ESPM do Rio de Janeiro.

Ambos centralizam as pesquisas, debates, discussões e informações em geral no blog Panmedia Lab ESPM.

Segundo suas próprias palavras na introdução do blog: O PANMEDIA LAB ESPM é um laboratório de mídias dedicado às investigações em torno das inovações e dos usos das tecnologias relacionadas ao universo da comunicação, do design, do entretenimento e das artes midiáticas. Temas como propaganda e marketing digital, consumo, linguagens e identidades na cibercultura, digital trash, blogosfera e games são, assim, alguns dos objetos que este laboratório investiga, entendendo-os como elementos que compõem a complexa e dinâmica cultura midiática contemporânea. O laboratório é formado por alunos e professores da ESPM-RJ.

Os professores constituíram no blog um observatório de práticas publicitárias.

Na exposição, elencaram uma série de práticas, tais como:

SPOOF – trata-se de sátiras de filmes publicitários; muitos dos comerciais que estão circulando pela mídia neste exato momento estão sendo satirizados através de produções independentes que utilizam os elementos e do recall para chamar a atenção para outros produtos, serviços ou mesmo discussões.

MASHUPS – clipes musicais que fundem estilos, hibridizam produções, variam tecnologias e interpenetram diversos nichos de preferências.

ADVERGAMES – como o próprio nome diz, games que trazem consigo elementos de comunicação publicitária, advertising.

VIRAIS INTERATIVOS e VÍDEOS INTERATIVOS – estratégia muito em voga, fica incrementada na medida em que atrai e prende a atenção do interlocutor na medida em que este se sente como construtor do conteúdo.

METAVERSOS, MUNDOS VIRTUAIS – mais que na moda, o Second Life é um exemplo claro desta estratégica.

Quanto a este assunto tão “top” devido ao sucesso do Second Life, os pesquisadores apresentaram uma ressalva: caso queira sobreviver, os metaversos necessitam rever sua tecnologia e permitir links para agilizar a navegação na web, já que se fizeram fechados.

Como comentário eu somaria aqui os WIDGETS, que são aqueles programinhas que algumas marcas distribuem para download que contém uma série de utilitários, como notícias, informações sobre o clima, mercado financeiro etc., todos eles desenvolvidos segundo para promover a marca em questão.

Acredito que vale a pena visitar o blog do Panmedia Lab da ESPM, o link segue logo abaixo.

http://www.panmedialabespm.blogspot.com/


A LÓGICA DE CONSUMO NAS CLASSES POPULARES.

A apresentação foi conduzida pelas pesquisadoras, professoras da ESPM do Rio de Janeiro, Dras. Carla Barros e Cecília Matoso.

A pesquisa apresentou como objetivo a compreensão da lógica de consumo apresentada na atualidade pelas classes ditas “populares”, aquelas as quais costumamos classificar pelas letras C e D.

A identidade – as pessoas pesquisadas definem a si próprias como “pobres” numa relação de comparação com outras classes sociais, comparação que envolve sua prática social e os elementos simbólicos mais recorrentes em seu imaginário.

Desenvolvida na Baixada Fluminense, as pessoas pesquisadas somavam quase que como um lema à sua identidade assumida – pobre – o jargão: “sou pobre porém limpo”; outros jargões correlatos apresentados foram: “sou pobre porém educado” ou ainda “sou pobre porém estudado”.

Arroz com passas – num almoço dominical junto a uma das famílias pesquisadas, a pesquisadora saboreou arroz com passas, preparado especialmente pela anfitriã segundo uma receita divulgada no programa de TV de Ana Maria Braga.

Segundo o depoimento, a família da anfitriã e seu círculo social consideram que elementos doces e salgados num mesmo prato formam uma combinação esquisita ao paladar, porém, estavam satisfeitos em oferecer à visitante uma “comida com a qual ela estava acostumada”.

Assim, percebe-se que o objetivo era o de integrar-se à cultura da pesquisadora.

O episódio somado a outras informações leva a concluir que o conceito de sociabilidade nas classes populares dá-se em nível da reciprocidade e da solidariedade com aqueles que estão mais próximos.

Orçamento e gastos – as classes populares demonstraram-se extremamente sensíveis à promoções no varejo.

Ocorre igualmente uma valorização muito forte de marcas prediletas da família.
Identificou-se na pesquisa algumas marcas que apresentaram maior recall, p. ex.: margarina Qualy, café Pilão, macarrão Adria e azeite de oliva Gallo.
Para o supermercado é definido um teto para os gastos; no check-out, caso o teto seja ultrapassado, fazem cortes antes do fechamento da conta.
A aparência pessoal é prioridade absoluta; se for preciso não pensam duas vezes antes de cortar outros gastos para garantir a manicure semanal e a cabelereira.
Consideram como “coisa de pobre” o pagamento do IPTU à vista, ou parcelamentos em longo prazo como os praticados pelas Casas Bahia, apesar de julgarem este último inevitável na maioria dos casos.

Nas festas e comemorações valorizam significativamente a abundância; os eventos são programados de modo a garantir uma larga margem de sobras de comes e bebes, entre outros elementos. Por exemplo, constatou-se um caso de festa de debutante em que houve uma sobra planejada de dois mil salgadinhos, e a aniversariante usou nada mais nada menos que três vestidos diferentes especialmente confeccionados para o evento.

Religião e consumo – a divisão entre os católicos e evangélicos apareceu de forma equilibrada.

Quanto aos evangélicos constatou-se que as igrejas oferecem orientação e educação financeira e orçamentária para que os fiéis otimizem seus gastos.
Num caso, uma das pesquisadas declarou que sob orientação do pastor reduziu seus gastos com supermercado em 50%, redirecionando este percentual para investimentos em educação, tendo conseguido realizar uma pós-graduação em recursos humanos.

Tecnologia – as lan houses e telecentros são abundantes em bairros populares. Ao contrário do que comumente se pensa, as classes populares apresentam um significativo nível de inclusão digital.

A individuação começa a ser valorizada. Por exemplo, os cônjuges apresentam profiles independentes no Orkut, bem como os adolescentes preferem navegar em lan houses onde existe a liberdade de visitar os sites que desejam porque dentro do lar sentem-se reprimidos e vigiados.

Ocupando lugar de destaque na sala de estar e cercado de rituais de conservação, o computador doméstico é o novo símbolo de ascensão social, num fenômeno semelhante ao advento da TV colorida no início dos anos 80.
UM PRATO CHEIO PARA OS PLANNERS, MAS AINDA POUCO EXPLORADO...

LABORATÓRIO INTEGRADO DE MARKETING E CULTURA – LIMC – ECA – USP.


A Universidade de São Paulo - USP, ao longo de seu mais de meio século de existência firmou-se como um mito no cenário cultural brasileiro.

Símbolo do mais elevado padrão de ensino e pesquisa na América do Sul e uma das mais respeitadas universidades de todo o mundo, o mito tem lá seus fundamentos, mas também os seus exageros.

Não é possível aplicar uma identidade única à USP, já que ela é composta de diversas unidades, cada qual com a sua história e identidade própria.

Um dos mitos negativos relacionados à USP é o de que ela é academicista e autofágica: seu ensino não teria foco no mercado, mas sim nas ciências puras, e como tal alimenta-se de sí própria ao estar no presente formando doutos que serão os mestres das suas futuras gerações de alunos.

É comum ouvir dizer que as pesquisas de toda uma vida desenvolvidas por estes doutos interessam mais às baratas das bibliotecas em busca de condições adequadas à sua reprodução do que ao mercado; algo como uma belíssima tese de livre-docência (grau acadêmico máximo), desenvolvida em anos de pesquisa financiada pelo governo, intitulada: A influência da menstruação das baleias na coloração do Mar Vermelho.

Deixando preconceitos, falsos mitos e ironias de lado, a realidade é que, umas mais outras menos, as diversas escolas da USP terão sim preocupação em formar bacharéis que não sejam exclusivamente intelectuais e doutos, mas principalmente profissionais formados com perspectiva de atuação focada nas necessidades e tendências do mercado, da economia e da sociedade, e uma das alternativas para esta pluralidade é a construção de centros de estudo e pesquisa especializados.

Um deles nasceu na Escola de Comunicação e Artes – ECA, o LIMC – Laboratório Integrado de Marketing e Cultura.

Nada melhor que as palavras de seu fundador e mentor, prof. Luís Milanesi, para defini-lo:

Ele (o LIMC) procura descobrir as relações entre duas esferas fundamentais da sociedade contemporânea e completamente distantes, muitas vezes antagônicas: o mundo dos negócios ordenado pela racionalidade, pela precisão; e, por outro lado, o campo da cultura e das artes que privilegia o imaginário, o subjetivo. A conjunção “e” entre o Marketing e a Cultura não sugere uma junção plena e harmônica como na expressão “marketing cultural”, mas cria diversas possibilidades de aproximações, intersecções ou até mesmo conflitos. Disso resulta a pergunta fundamental: como o mundo dos negócios se relaciona, interage com o social, com a cultura, os valores e os costumes? Em que medida esses campos tão diferentes se afetam mutuamente? (...)[1]

Desde o ano de 2002 o LIMC desenvolve o ciclo de palestras sobre políticas de comunicação corporativa que ocorrem mensalmente e são muito concorridas.

Além de gratuitas, elas constituem rara oportunidade de contato direto com executivos de comunicação e marketing que atuam com valiosas marcas mais que consagradas no mercado. Para se ter idéia da importância destas palestras, já estiveram presentes a Fiat, Natura, Gerdau, Nestlé, Globo, GM, Unilever, Basf, Telefonica, Odebrecht, Alcoa, Philips, Embraer, Klabin, Tetrapack, Alcatel, BankBoston, Vivo, Boticário, Siemens, Vale do Rio Doce entre outras do mesmo nível.

Apesar de sempre encontrar-se profissionais representando agências de publicidade que estão entre as top ones do mercado, acredito que esta iniciativa do LIMC ainda não foi descoberta pelos planners, que através delas podem realizar um excelente exercício profissional, já que ali ocorre uma oportunidade rara e muito rica de se ter um contato direto com grandes anunciantes e ouvir diretamente das principais cabeças decisoras quais são seus valores, seus objetivos, suas práticas, qual a visão que eles têm do mercado, do seu papel social, da sua marca, do seu endomarketing, dos principais conceitos e valores que querem transmitir não só ao público externo mas também ao seu público interno, além do que pode-se ficar conhecendo em detalhes qual é o histórico da prática comunicativa destas empresas e suas respectivas marcas, do organograma administrativo com o qual lidam dentro da estrutura empresarial na qual se situam, o que significa sucesso e soluções para eles e quais as tendências que as quais percebem no desenrolar de sua presença no mercado.

Será que um planner pode desejar mais que um prato cheio desses?

Além do ciclo de palestras de comunicação corporativa, o LIMC desenvolve anualmente o Prêmio USP de Comunicação Corporativa, que consiste na disputa entre inscritos da apreciação de cases de sucesso que são expostos em seção e analisados por um corpo de jurados, composto de personalidades e profissionais de destaque, selecionados de forma eclética entre diversos setores da sociedade, contemplando sempre a pluralidade à qual o LIMC se propõe na intersecção do mundo dos negócios com o mundo da cultura e das artes.

LABORATÓRIO INTEGRADO DE MARKETING E CULTURA.
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[1] Introdução ao livro: Políticas de Comunicação Corporativa, organizado pelo LIMC e publicado pela COM-ARTE em São Paulo, 2005.

FAITH POPCORN, TED NELSON E A COMUNICAÇÃO DIGITAL.

A Nostradamus do marketing - Em 1991, Faith Popcorn entrou para a história internacional do marketing ao publicar seu relatório, o qual tornou conhecido o conceito de cocooning (em inglês, encasulamento).

Apelidada de a Nostradamus do marketing, Popcorn tornou-se referência para profissionais de propaganda e marketing no início da década de 90, algo semelhante ao que Jon Steel representa para os planners hoje – uma referência universal.

As previsões de tendências de Popcorn hoje aparentam ser de uma ingenuidade tamanha que julgamos ser o sucesso de suas teorias apenas um grande case de marketing bem sucedido. Porém, talvez não sejam.

Ainda não podíamos falar de informatização pessoal e de Internet como fenômeno de massa naquela época, e este fator, o qual consolidou-se somente no final dos anos 90 como revolução, fez com que os conceitos e percepções da realidade mudassem tanto e de forma tão rápida que mal percebemos estar mergulhados na realidade prevista por Popcorn há quase vinte anos atrás.

Encasulamento, o que é? - Voltando ao cocooning, só para não deixar esta citação perdida sem explicação, trata-se fundamentalmente da tendência da busca pela proteção em nossa sociedade contemporânea, na qual viveríamos em casulos que impediriam o contato direto com outras instâncias sociais como o casulo armado, nossa casa e o casulo nômade, o automóvel.

Seria Popcorn uma pensadora original? - Nunca tive a oportunidade de desenvolver um estudo sistemático das idéias de Popcorn, mas percebo que ela foi antecedida na história nos primórdios do capitalismo a partir da burguesia na Europa do século XVIII; por exemplo, vejamos a arquitetura burguesa nas relíquias coloniais brasileiras como Parati e Olinda. Os solares apresentam paredes bem grossas cujas janelas têm parapeitos que se estendem por mais de meio metro, afunilando-se até uma abertura sempre pequena que lembram ameias de fortalezas.

A egonomia e o consumidor de hoje: A egonomia fala sobre a produção personalizada das mercadorias individualizadas. Vejamos a campanha que está na mídia do Banco do Brasil – Banco do João, Maria, Paula, Edson etc. como um exemplo bem pertinente desta previsão. Marcello Magalhães, planner da Giovanni, em sua palestra no Top de Planejamento 2007 falou que hoje as marcas são mais sensíveis e, ao invés de bombardear a cabeça do consumidor impondo um padrão de desejo e impulso de consumo, procura aproximar-se e entender cada consumidor para oferecer justamente aquilo o que ele procura.

TED NELSON – o cocooning na Internet e a via da libertação. O pai do hipertexto, o filósofo americano Ted Nelson olha com desconfiança para os atuais conceitos de informática. Ele os considera limitadores das possibilidades oferecidas pelos computadores.

Para Nelson, os treinamentos de informática nada mais são que a transmissão de determinadas convenções impostas pelos líderes do mercado de informática.
As várias possibilidades de se criar, por exemplo, um editor de textos ou um navegador com funções e ferramentas completamente diferentes das apresentadas pelos dos sistemas mais utilizados – Macintosh e Windows – nem de longe passam pela cabeça dos usuários da atualidade, excluindo-o do verdadeiro espírito da revolução digital.

Programar ou utilizar – a troca: Nos primórdios da informatização, os modelos comercializados podiam ser limitados em termos de velocidade e armazenamento, porém, conferiam ampla liberdade ao usuário na medida em que este podia PROGRAMAR, ou seja, criar em seu computador pessoal funções e ferramentas personalizadas sem a ajuda de nenhum profissional especializado. Hoje, o direito de programar tornou-se monopólio de especialistas. Trocamos com este direito por uma arquitetura organizacional de dados baseada em arquivos fechados, ou ainda por um pacote de funções desenvolvidas para adaptar-se a quaisquer tipos de serviços, mas tudo polivalente, pensado para atender não à necessidade pessoal de cada um, mas sim adaptar esta necessidade às ferramentas disponibilizadas.

Lembro de um amigo que desde o final dos anos 70 vivenciou jóias como o XT, monitor de fósforo monocromático e o wordstar... e hoje mantém em seu home office dois computadores de última geração, e, pasmem: apesar de ter a seu dispor máquinas formidáveis não abriu mão do seu XT, nem de sua impressora matricial porque nele desenvolveu um programa fundamental para administrar os contatos comerciais de sua empresa, e por mais que explore versões mais recentes do pacote Office da Microsoft, não consegue encontrar ferramenta ou função que lhe garanta sequer resultado aproximado.

Popcorn e Nelson – o paralelo.
Acredito que com o auxílio da versatilidade do nosso raciocínio podemos estabelecer um paralelo entre as previsões de Popcorn e as preocupações de Nelson.
A situação talvez seja mais agressiva do que percebemos em nosso estressante cotidiano. Usando aplicativos deixamos de reter nossos próprios dados no universo informatizado já que os donos dos sistemas como a Microsoft ou a Apple tornaram-se proprietários dos dados possíveis de serem operacionalizados na informática praticada hoje em dia.
Quando podíamos programar, fazíamos o que queríamos em nossos computadores pessoais; hoje, precisamos pagar a eles pelos aplicativos, e pior: não para fazer o que queremos, mas para adaptar o que queremos ao que eles nos permitem fazer. Assim, parece que em busca de segurança – a segurança de estar integrado ao universo digital permite viver identidades e possibilidades que, apesar de virtuais, alimentam a perspectiva que Popcorn chamou de aventura da fantasia – sair do casulo mas de modo seguro – fazendo com que contraditoriamente à tendência da egonomia recaíssemos num casulo virtual dos sistemas operacionais e aplicativos.
Os planners e as perspectivas estratégicas: Tais reflexões são fundamentais para a compreensão do comportamento do consumidor, uma vez que implicam em se pensar, rever e mesmo prever as tendências da estética, dos conceitos de tempo e velocidade, dos conceitos de entretenimento entre outros, e a dinâmica com a qual podemos nos deparar no processo da vivência social da economia de mercado, e entender qual o papel da comunicação publicitária diante disso.

Trata-se de um projeto de construção intuitiva de um conjunto de perspectivas mais que estratégicas, fundamentais para o sucesso dos projetos publicitários que estamos desenvolvendo para os nossos clientes e suas bases teóricas e práticas. Provavelmente poderemos, assim como fez Popcorn, prever as tendências futuras do comportamento social e, no que diz respeito à nossa função na cadeia de produção publicitária, garantir que estejamos acompanhando a dinâmica comunicativa desta complexa sociedade contemporânea para o sucesso e garantia de satisfação dos nossos clientes.

THEODOR HOLM NELSON nasceu em 1937 nos Estados Unidos, graduado em sociologia e filosofia, criador de termos como hipertexto, hipermídia, hiperlink, transclusão e virtualidade. Seu trabalho é focado na busca da acessibilidade dos computadores a todo e qualquer tipo de pessoa, e sua principal máxima é:
Uma interface para um usuário deveria ser tão simples que um iniciante, numa emergência, deveria entendê-la em 10 segundos.
FAITH POPCORN é graduada pela Universidade de Nova York, e atuou com destaque na área de criação publicitária em agências antes de abrir em 1974 sua empresa, a BrainReserve consultoria, vindo a notabilizar-se perante o mundo com a publicação de O Relatório Popcorn em 1991. Atua com branding e new business, e atende a clientes como a Nissan, Procter & Gamble, American Express entre outros.
I Seminário Internacional de Publicidade e Pós-Modernidade – ESPM, maio de 2007.

Seguindo a tendência que se observa da aproximação entre a comunicação publicitária e as ciências humanas, a ESPM através de seu Instituto Cultural e do Programa de Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo promoveu nos dias 29 e 30 de maio de 2007 este evento que contou com a participação não somente de intelectuais brasileiros e europeus dedicados ao estudo da comunicação e da publicidade na pós-modernidade, mas também de empresários e profissionais da propaganda e marketing marcaram presença nestes dois dias de estudos e debates, sob a liderança do prof. Clóvis de Barros Filho, da ESPM, e como principal convidado o francês Michel Maffesoli (ao lado).

Só peço desculpas de antemão se nesta síntese não fui capaz de reproduzir os conceitos tratados com o rigor científico e acadêmico que merecem.
1º dia.
O evento foi aberto pelo atual diretor da ESPM, Prof. Dr. Luiz Celso de Piratininga, que numa colocação breve, descontraída e bem informal fez uma comparação inusitada entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, classificando a primeira como uma cidade dionisíaca, isto é, dada ao prazer ao lazer e ao lúdico, e a segunda como apolínea, dedicada à racionalidade, ao trabalho disciplinado e formal. Comparação um tanto que estranha porque a princípio sabe-se que estes estereótipos estão totalmente invertidos, mas ele logo explicou o porque. A São Paulo de hoje é uma cidade que sabe cultivar o prazer, com sua rica gastronomia, seu intenso movimento cultural, seus cidadãos que incorporaram a cultura do happy hour, ou seja, a São Paulo de hoje é uma São Paulo apaixonada. Já o Rio de Janeiro é uma cidade onde os cidadãos estão sempre preocupados com a disciplina física pelo culto à beleza corporal. Ali, o trabalho e a organização se fazem sempre presentes por uma cidade que, enquanto vitrine do Brasil para o mundo deve sempre demonstrar organização e trabalho. O dionisíaco e o apolíneo nada mais são que etapas que se sucedem no tempo, e na ruptura da substituição da pós-modernidade, o olhar vai para além dos estereótipos fazendo com que as semelhanças e as diferenças sejam motivo de união dos povos.

Prof. Dr. Michel Maffesoli – Universidade Sorbonne – Paris. Intelectual de primeiríssima grandeza e renome internacional, o prof. Maffesoli foi a grande estrela do evento contribuindo com a sua descomunal bagagem de conhecimento que exigiu dos presentes um alto grau de concentração para acompanhar e compreender os complexos raciocínios desenvolvidos sobre profundos conceitos.

Acredito não ser conveniente esmiuçar aqui passo a passo a palestra do prof. Maffesoli, mas sim apontar os principais elementos da sua linha de raciocínio que buscou definir o significado atual da pós-modernidade.
Falou ele sobre a forma, aquilo que está para além do pós-moderno, o seu conteúdo e seu continente.

O esporte, a religião, a música, a política etc. são elementos que hoje exercem imensa influência e movimentação sobre as massas – uma orgia, no sentido de paixão comum.

A partir disso então surge uma mitologia, e com ela, as imagens que demonstram uma ordem de amores – grandes ídolos, em torno dos quais ocorre esta orgia. Porém, sabemos que nossa cultura é uma cultura marcada pela tradição judaico-cristã, tradição esta que nega estas imagens, os ídolos, uma cultura iconoclasta. Um conflito.

Com a pós-modernidade ocorre então um retorno às imagens, aos ídolos, às celebridades em torno das quais a orgia ocorre, favorecida pela tecnologia que permite a organização holística dos iniciados e do seu culto aos seus ídolos – a ordem do amor induzida pela imagem, e a publicidade torna-se então a arte do banal e do comum, da vida nababesca e do mundo de abundância.

Prof. Dr. Juremir Machado – PUC do Rio Grande do Sul.
Com uma exposição tanto objetiva como bem humorada, o prof. Machado buscou expor uma breve definição do que entende por publicidade, partindo de duas hipóteses; a primeira é a de que ela é um mal necessário, e a segunda é a de que ela é um bem desnecessário.
Seria a publicidade então uma tecnologia do imaginário? Ou um complô dos criativos contra os idiotas?
E quem seria o publicitário? É aquele que acredita que vende um produto? É aquele que acredita que vende um conceito... ou é aquele que acredita que vende um vício imaginário.
O primeiro é o realista que quer vender o produto pelo produto.
O segundo é o artista, o criador, o intelectual.
Já o terceiro é aquele que vende o mal necessário, o dionisíaco para quem o sentido da vida é que ela só vale a pena na medida em que for perdida.
A publicidade é então a pornografia do mundo contemporâneo: vende vícios, os vícios que se sustentam na compulsividade de trocas, trocas e mais trocas. O último discurso revolucionário – só nos faz o bem quando nos vende o mal... prazer, glutonaria, luxúria, embriaguês.
É a sociologia dos tempos atuais porque seu sentido único é inventar necessidades as quais não temos. Por exemplo: o que leva um cidadão a tornar-se assíduo espectador do Big Brother? Três motivos: um, porque ele é um idiota; dois, porque ele não tem o que fazer, e três, porque o Big Brother instaura a democracia fazendo as pessoas famosas sem muito esforço pessoal.
Assim, na senda das colocações do prof. Maffesoli, o prof. Machado (ex-orientando de Maffesoli) classifica a publicidade como uma “mitolorgia”, a sacanagem pura, o gozar, comprar é gozar, os shoppings são bordéis onde o gozo coletivo é oferecido para todas as idades – a putaria total.
E fecha com bastante ousadia dizendo que a principal imagem do século XX é a de Apolo sendo sodomizado por Dionísio atrás da escada rolante de um shopping center.

Hiram Castelo Branco – sócio-diretor da Giacometti Publicidade.
Em sua colocação, Castelo Branco retomou a publicidade dos anos 70 num saudoso painel no qual expôs diversos comerciais de bastante sucesso na época, com o objetivo de discorrer sobre a construção de marcas no mercado brasileiro, e como que a elevação da auto-estima do brasileiro foi uma das conseqüências deste processo.
olkswagen, Unibanco, Cônsul, Avanço, várias marcas que cresceram e se consolidaram num período cuja publicidade foi marcada por uma ingenuidade tão intensa quanto o seu bom gosto e elegância, construtiva e interessante, que define uma das principais características da publicidade brasileira, característica esta não tão intensa na atualidade, apesar de sempre presente.

Marina Kotsantonis Pechlivanis – sócia-diretora da Umbigo do Mundo Publicidade e mestranda da ESPM.
Discorrendo sobre sua tese, Marina falou sobre a presença da marca de fast-food Giraffas na perspectiva da ex-perimentação do tempo e espaço, como ex-periência do ver, ver a realidade como uma das características do conhecimento pós-moderno.
A ex-periência do ver é menos reflexiva e mais ex-perimental. Cada experiência é um presente puro que independe das categorias de tempo e espaço para se efetivar, constituindo então um hiperespaço. As tribos contemporâneas são um exemplo de elementos definidos pela forma, e não pelo conteúdo, no entrecruzamento flexível de uma multiplicidade - percebam aqui a influência do prof. Maffesoli, cujas obras estão no referencial teórico de sua pesquisa.
A socialidade das tribos dá-se pela aparência e superficialidade desindividualizados num grande theatrum mundi de uma forma lúdica.
A partir disso surge a experiência do policulturalismo no qual os grupos se organizam em territórios e com os seus símbolos.
Assim, o Ex – X – é o indeterminável; x-tremo, além de códigos e sentidos; x-incompreensível, para além de conceitos fechados, x-incógnita – as faixas etárias estão desaparecendo.
Nas metrópoles os fluxos metalingüísticos dão-se no fluir dos plurais, onde ocorre a experiência... onde se experimenta a experiência do consumo, das marcas, dos deuses falantes (personagens, celebridades), panoramas, como se experimenta o consumo nos shoppings, nas praças de alimentação, o ópio do entretenimento, o ecletismo da cultura contemporânea.

2º dia.
Depois de um breve discurso do lendário Francisco Gracioso, um dos monstros sagrados da ESPM que discorreu sobre a emotividade na publicidade latina, abriram-se os trabalhos do segundo dia.

Giuliano Da Empoli – Revista Zero (Itália), dedicada ao debate político e cultural.
Segundo Giuliano que apesar de romano proferiu sua palestra em francês, a pós-modernidade gira em torno dos eixos da estética, da teoria do conhecimento e da relação sociedade e política, sendo o eixo da estética o mais evidente de todos.
Para Giuliano, o mundo estaria se brasilianizando; esta brasilianização não seria algo como a aculturação imperialista tal como a influência da cultura norte-americana no mundo contemporâneo. Não se trata de um olhar imitativo do Brasil. O Brasil tornou-se a metáfora das tendências pós-modernas que estão disseminadas em nossa cultura e sociedade.
Com a queda do Muro de Berlim acreditou-se que ocorria o fim da era das paixões, das ideologias, da irracionalidade, e despertávamos para a aurora de um futuro racional; porém, em 11 de setembro a irracionalidade mostrou-se mais viva que nunca.
O carnaval brasileiro é orgia, é paixão, é imagem, é culto ao corpo; o Brasil é a capital internacional da cirurgia plástica.
Assim, temos uma importância mais que exacerbada do sexo na sociedade brasileira, e o carnaval nada mais é que o narcisismo de massa, o desejo de aparecer, a representação de si. Este exibicionismo da massa é a evolução do processo democrático, e é essencialmente ligado à comunicação.
O advento da tecnologia só veio a confirmar este narcisismo; com o podcast, e-mail e outros recursos com os quais eu divulgo aquilo o que é interessante em minha vida.
Outro fenômeno é o retorno das grandes arenas: a comunhão e as orgias nos estádios: o futebol, o carnaval propriamente dito nos sambódromos entre outros grandes eventos.
O próprio Big Brother é um retorno das grandes arenas romanas – os gladiadores lutam entre si para o deleite dos plebeus... só um pode sobreviver.
Surge disso uma nova elite, a elite da arena. Esta vende bastante, porque outras elites mais velhas como a dos políticos e a dos intelectuais pouco vendiam.
O carnaval é em si um dos principais elementos, mas há um outro elemento da brasilianidade muito importante, que é o risco.
Não existe guerra no Brasil, mas a violência social mata 50 mil pessoas por ano. Nos morros do Rio ocorre um estado paralelo comandado pelo crime organizado, e as classes mais resguardam seu espaço social – ninguém de fora entra na favela, assim como os burgueses se fecham em condomínios vigiados por profissionais da segurança e tecnologia para tal.
Estes traços da brasilianidade se observam em Paris, onde a polícia não pode entrar em certos espaços que são territórios demarcados por minorias. Assim, com mais alguns comentários sobre outras questões da brasilianidade expressa em outras sociedades pelo mundo afora, Giuliano dá por encerrada sua exposição, assim mesmo, sem uma conclusão, frisando que tratou-se de expor apenas observações sobre esta brasilianidade na comunicação e na cultura contemporânea.

Massimo Di Felice – Escola de Comunicação e Artes – USP.
Falando sobre pós-modernidade, publicidade e pós-humano, o prof. Felice levantou algumas questões básicas sobre a pós-modernidade. Primeiro, ela incomoda, especialmente à sociologia e às religiões monoteístas. Segundo, ela trás a crise, a crise das grandes narrativas da psicanálise, do marxismo e do evolucionismo, e a crise dos métodos unitários da física, da filosofia da ciência, das ciências exatas.
Dando como exemplo a entrada de tribos indígenas da América Latina na Internet que a partir disso produz as suas próprias narrativas, o prof. Felice citou Vattimo que fala sobre o papel dos meios de comunicação na pós-modernidade, que fizeram com que as visões de mundo se multiplicassem gerando uma crise nos pontos de vista centrais.
Também há a crise da linguagem que se deu a partir das novas mídias e tecnologias dando espaço a novas linguagens as quais ultrapassam fronteiras e limites diversos.
A publicidade então representa uma revolução, ou melhor, várias revoluções na linguagem.
A publicidade ao contrário do que comumente se pensa não foi uma invenção do capitalismo, já que por exemplo a Igreja lançou mão de recursos publicitários para oferecer a seu público-alvo uma linguagem acessível às idéias bíblicas que queria difundir, utilizando a linguagem dos afrescos em épocas onde a leitura da bíblia era restrita ao clero.
A publicidade existe de forma correlata ao mercado, o qual também não é uma invenção capitalista.
A publicidade na pós-modernidade trouxe então o fim da hegemonia do arquiteto e do político na determinação dos espaços urbanos, pois com ela podemos dialogar constantemente através das imagens urbanas no outdoor, busdoor entre outras.
O fenômeno Second Life e a Internet de forma geral nos trouxe a difusão de info-matérias e info-territórios – a virtualidade – uma matéria nem orgânica, nem inorgânica, uma nova forma de perceber o mundo, gerando assim a crise do antropocentrismo.
A publicidade nesta perspectiva configura a crise do humanismo na medida em que se tornou construção pós-humana, encerrando em si um habitat técnico e humano ao mesmo tempo.
A situação social é determinada por um click, pessoas se relacionam através da interface, o software, sistemas informativos.

José Roberto Whitacker Penteado – ESPM.
Como a publicidade atual sustenta-se? – esta foi a questão levantada em debate pelo painel exposto por Penteado, o qual envolveu diversos comerciais que estão na mídia hoje: Brahma, VW Gol, Feel Good, Ford Fiesta, Glaid, Texaco, Mastercard, Metamucil, Nextel, Philadelphia, Sadia, VW Golf, Intelig, CEF, Adidas. A Publicidade tornou-se uma das principais características do século XX, e uma peculiaridade interessante é que só o Brasil utiliza o termo publicidade como sinônimo de propaganda; a origem semântica está justamente numa questão levantada anteriormente pelo prof. Felice: os afrescos católicos eram chamados na Igreja pré-Vaticano II de “propaganda” (latim).
A mídia busca basicamente informar, educar e divertir – esta última, a mais lucrativa função – têm na publicidade a sua principal fonte de renda fazendo com que o entretenimento ocupasse cada vez mais espaços na mídia. Fiel à sua função – vender – o anúncio apresenta-se ao grande público de forma ética: não mente, não finge, não camufla, está ali para vender, não nega e todos sabem e entendem exatamente o que ele quer, ele não tem segundas intenções – é sincero – e nem parcialidade – é transparente e objetivo. O jornalismo atual não tanto informa, mas principalmente explora as sensações e o humor.
Tornou-se espetáculo.
Assim, a publicidade nos coloca sob situação flagrante.
Penteado encerrou a fala com uma pergunta que explica o porque desta afirmação: em que arena nos encontramos?!

João Osvaldo Schiavon da Matta – mestrando e professor da ESPM. Discorrendo sobre sua tese, o prof. Schiavon falou sobre a produção midiática da popstar Avril Lavigne.
Cantora canadense de 22 anos, Avril Lavigne reúne em si uma série de estereótipos e símbolos das mais diversas tribos jovens do universo pop: grunge, rockeira, emo, gótica (como se autodefine) e mesmo alguns aspectos do punk. Esta estratégia favorece a integração das tribos presentes no cyberespaço. Sendo a Internet um locus privilegiado dos adolescentes, o experimentalismo empírico de uma cultura midiática que é hegemônica traduzindo a importância do self nesta faixa etária integra todas as tribos.
Direcionados pela emocionalidade, as comunidades se re-tribalizam. Basta observar o site oficial de Avril Lavigne para perceber como ela se apresenta com múltiplas identidades e estereótipos.
O próprio símbolo de Avril é composto do agressivo ícone pirata da caveira e ossos cruzados, mas dentro de um coração pink.
Assim, curioso é que em torno de Avril orbitam duas vertentes: fãs e anti-fãs, estes últimos criticando justamente esta indefinição de identidade da cantora. Schiavon fecha sua exposição citando o filósofo Espinoza: “não gostamos de uma coisa por ela ser uma coisa boa, mas achamos a coisa boa porque gostamos dela”.

Julio Pompeu – Univ. Fed. do Espírito Santo – UFES.
A linha usada por Pompeu para discutir o tema da pós-modernidade foi a da história da filosofia ocidental.
Nesta linha considerou crise como não exceção à normalidade, mas como regra. Crise é mudança.
Mesmo a Idade Média na qual imperou o teocentrismo foi antropocêntrica porque Deus possuía características humanas.
Retomando a mitologia grega Pompeu falou do confronto de Hércules com a Hidra de Lerna, o monstro de múltiplas cabeças as quais renasciam logo após serem esmagadas pelo herói; o mito é simbólico porque coloca o baixo ventre como a morada da Hidra, ou seja, a parte apetitiva do homem, que aprisionando a Hidra a doma.
É a metáfora da razão dominando o corpo.
Seguindo a linha platônica, nada pode ser ensinado mas a paidéia – processo educativo - consiste em fazer com que o homem retome consciência de um conhecimento inato, o qual já trás consigo, a teoria da reminiscência que remete à uma existência anterior, a da alma no mundo das idéias, o lugar onde vai obter o conhecimento.
Assim, para Platão, falar de conhecimento é falar de metafísica, o mundo da permanência, da estabilidade, que se antagoniza ao mundo sensível, material, corruptível, cuja transitoriedade impede de compatibilizar com verdades inquestionáveis, sendo portanto o lado ruim, o lado ilusório da existência.
O Leão habita o tórax, a parte ativa do corpo, e a Hidra habita o ventre, a parte apetitiva; quando o Leão e a Hidra se unem, surge a causa da ação.
A razão então exerce um papel controlador do corpo e das paixões.
Numa observação pessoal recordo que no mesmo mito de Hércules, num de seus acessos de loucura, sua deusa protetora Atena devolve-lhe a razão atirando-lhe uma pedra no peito.
A partir destes postulados a filosofia ocidental associou as paixões e desejos à falta de liberdade, ou seja, a aplicação dos juízos morais.
Na modernidade teremos Descartes que aprofundará os conceitos dualistas platônicos em res cogitans – a coisa pensante, no mundo da razão, e a res extensa, a coisa material, onde existem os afetos.
Hobbes por sua vez falará de uma única substância, a Natureza, ou Deus.
O medo livra o homem de seu estado de natureza. Bem conhecemos a definição pela máxima de Hobbes imortalizada por Caetano Veloso: o homem é o lobo do homem, e rende-se ao racional na medida do seu medo, que passa então a ser elemento socializador.
Para Maquiavel, a verdade efetiva das coisas é o determinante em nossas ações, definindo-se o homem como um ser desejante e eternamente insatisfeito. Na contemporaneidade Foucault trata da estética como formas do pensar e do relacionar, abordando alguns temas básicos da pós-modernidade: a sexualidade, a loucura e a morte.
Foucault fará uma abordagem em conceitos como o da biopolítica, o da bioestética libertária e o erotismo da morte vitalista, da loucura.
Assim, voltamos ao ponto incial: a pós-modernidade é crise na medida em que o homem é realocado.

Fechamento do professor Maffesoli.
Nada é herético e tudo é discutível, então, o discurso da pós-modernidade pode, por exemplo, ser ecológico, num sentido que ele explicitará adiante.
Na perspectiva judaico-cristã, a concepção econômica do mundo fala de salvação, de uma história de salvação, talvez aquilo o que Nietzsche tanto criticava na tradição judaico-cristã quando discorria sobre aqueles a quem chamou de os melhoradores da humanidade; em outras palavras, a perspectiva judaico-cristã coloca objetivos os quais a humanidade deve alcançar.
Assim, a economia, fator externo que se manifesta, existe em função da ecologia, o fator interno, a preservação.
Em Einstein e sua teoria da relatividade ocorre aquilo o que chamou de contração entre tempo e espaço.
A publicidade então constituiria a contração entre o tempo e a história – o medo, o iconoclasma e o ícone, ídolo que remete à materialidade e espaço, a limitação de Deus.
A partir deste ponto, ocorre então uma hierogamia, onde os ícones serão como que presidentes da orgia sexual. Daí a luta bíblica dos profetas contra a imagem, porque ela suscita aos sentidos, e estes, à sexualidade.
O sentido de se falar em ecologia nesta relação está em considerar este processo como o fruto da materialidade, da mãe-terra, ou seja, uma erótica social. A canção “Cio da Terra” de Milton Nascimento e Chico Buarque, no meu entender, pode bem ilustrar este raciocínio do professor Maffesoli, pois ela relaciona o prazer com os frutos da terra, da natureza, da materialidade.
Direcionando-se a outro viés, o prof. Maffesoli fala do gótico onde ocorre a ligação entre o amor e a morte no trágico, e a ponte com a publicidade é a de que esta seria a homeopatização da morte, já que ela não é e nunca foi a ordem da funcionalidade.
Por exemplo, o luxo, a luxuriência do barroco e a luxação não é funcional; e um dos principais motes da publicidade nada mais é que o luxo.
O Renascimento em seu período do cuatroccento foi marcado melo mecenato, onde os banqueiros financiavam a produção artística, intelecutal e cultural.
As relações de consumo são relações de perda, e publicidade incita ao consumo.
Consumir gera espaços, cavidades; e se estamos falando de espaços e cavidades estamos falando de materialidade, portanto, de aparências; tais aparências seriam então as formas que a realidade assume a partir da publicidade.
“O mundo é imundo”, tomado através das aparências e formas formantes” (Espinoza).
Assim nesta perspectiva podemos visualizar a publicidade como a filosofia da forma, forma pela qual precisamos amar este mundo imundo, na dimensão onírica da publicidade.
A pós-modernidade remete diretamente às imagens, e estas à publicidade, que nada mais é que uma expressão da imagem.
A cidade de São Paulo hoje constitui um laboratório da pós-modernidade na medida em que suas exposições pululam, sejam elas teóricas ou empíricas.
Enfim, o prof. Maffesoli encerra sua colocação falando da metáfora da valsa: o movimento dá-se a partir de um ponto fixo: um dos pés precisa estar firme sobre o solo, permitindo passos rápidos – assim Maffesoli observa a discussão sobre publicidade e pós-modernidade.
A publicidade só pode funcionar quando ela corresponde a um modo de estar, modo este que é o modo da ausência de medo: nada devemos temer, nem a técnica, pois esta é a remagificação do mundo. Basta observar os recursos e possibilidades que conquistamos utilizando a tecnologia, por exemplo, o celular ou o computador. Como última frase, Maffesoli fala do totem, do sujeito, o eu, como totem, totem agregador de sujeito mais objeto... sujeito pós-moderno que é possuído pelo objeto. Enigmático, no mínimo... estaria ele falando o mesmo que os irmãos Wachovsky quiseram dizer em Matrix?!

Sapo de dentro, sapo de fora - observações sobre o primeiro evento do Grupo de Planejamento em 2007.

Com auditório lotado, o evento começou em clima de muita descontração na noite de quarta-feira, 16 de maio, com música ambiente e reencontro de muitos amigos.

Nosso amigo Fujioka faz a abertura falando sobre o cronograma do GP para este ano de 2007, e anuncia que o site da entidade vai assumir formato de blog, visando estimular a participação geral. Também participou desta abertura Daniel Tomazzo, parceiro de Fujioka no planejamento da JWT.

A Dobradinha do GP tem o espírito de promover o debate e a geração de idéias entre os profissionais de planejamento, colocando sempre como speakers um profissional de destaque na função de planejador e outro profissional de destaque que atua numa área diversa, porém de interesse ao planejamento.

Desta vez a Dobradinha do GP trouxe David Laloum, diretor de planejamento da Y & R e Marcelo Coutinho, diretor executivo do Ibope Inteligência, começando pela exposição deste, com o tema: O fim do discurso publicitário: as marcas em tempos de comunidades online e criação coletiva.

As mudanças que surgiram com o advento da Internet serviram para abrir a colocação de Coutinho, que introduziu sua fala comentando sobre a transição e a ruptura que ocorreu no tocante à divulgação de marcas, onde a situação em que só as grandes corporações tinham acesso a recursos massivos de divulgação de suas marcas numa posição ativa perante receptores passivos, e agora a Internet possibilita aos consumidores o contradiscurso: a rede tornou-se um canal de comunicação massiva e mais democrática onde o consumidor pode expor o seu julgamento sobre a marca que é divulgada na mídia.

Por conseguinte, os papéis sociais nas relações de produção e consumo vão alterar-se significativamente.

Mantendo sua metodologia de reconstrução histórica, Coutinho continua comentando sobre a hegemonia do pensamento fordista que imperou no mercado a partir dos anos 60, e a crise do modelo keynesiano nos anos 70 que gerou novas formas de relacionamento na economia que decorreram das novas formas de relacionamento social.

A partir deste ponto Coutinho passou a explorar o conceito de destruição criativa, teorizado por J. Schumpeter, a partir do qual concebe-se que as relações progressistas no desenvolvimento do capitalismo pressuõe a necessidade dele próprio destruir as antigas formas de produção substituindo-as por novas.

É claro que nesta perspectiva ocorre uma reação conservadora, como se pode notar nos segmentos organizados da economia que apelam para a intervenção do Estado e das leis para impedir o avanço de seu obsoletismo e sua substituição por novos setores hegemônicos.

A nova criação que surgiu deste embate refletiu uma pluralidade que veio a superar a antiga visão em profundidade, a especialização, ou seja, as relações comunicacionais passaram a primar pela valorização de uma visão mais horizontal da realidade, fazendo com que sem medo os atores da sociedade se pronunciassem na mídia sobre campos diversos aos quais atuava, mesmo estes tendo relação direta com o seu foco, o que até então era considerado uma heresia na visão vertical e compartimentalizada das relações sociais, inclusive as relações de produção e consumo, onde cada especialista pronunciava-se sobre sua especialização e só.

Por conseguinte as marcas passaram a ocupar neste mercado uma nova posição a partir da constatação a qual o consumidor deixava de ser mero agente passivo e passou a interferir e a se relacionar de modo até então inédito com estas mesmas marcas.

Por exemplo, a marca de brinquedos Lego consolidou-se nos anos 80 a partir dos seus famosos tijolinhos plásticos que se encaixavam, típico brinquedo considerado arcaico perante os novos conceitos de brincadeira infantil que podemos perceber na atualidade. Ledo engano: faz muito sucesso o concurso promovido periodicamente pela Lego da melhor montagem de um robô a partir dos seus tijolinhos.

Será que o público que consome Lego a partir desta perspectiva é o mesmo que consumia brinquedos da marca nos anos 80? Obvio que não... ou talvez sim, dado que nada mais são que aquelas crianças que cresceram, mas com certeza as características mudaram e bastante. E mais: seria possível promover o encontro destes aficionados de construções de bloquinhos plásticos sem a Internet?

Retoma-se então o conceito de “long tail” onde as novas formas de consumo são avalizadas através dos pequenos nichos que vão aos poucos sendo identificados e catalizados com o auxílio da Internet, formando sob o formato gráfico a longa cauda de uma espécie de pulverização do consumo em diversos nichos que, concatenados, denotam a garantia da lucratividade não de forma vertical, mas sim horizontal.

Quanto à exposição de David Laloum, diretor de planejamento da Y & R, o tema abordado foi: First Life: o homem no foco das marcas.

Após a descontraída distribuição de confeitos de chocolate M & M para adoçar o encontro, Laloum iniciou sua extrovertida palestra de teor altamente filosófico, divertida ainda mais pelo simpático sotaque francês.

Temas, conceitos e discussões se sucederam ao longo de sua colocação a qual indubitavelmente gerou impacto do qual nenhum dos presentes escapou.

Falou Laloum sobre o movimento Neo-Luddista, o qual, grosso modo classifa a tecnologia como algo misantrópico. Por exemplo: o celular facilita o desmarcar dos compromissos; quantos encontros, festas, jantares, happy hours poderiam ter aproximado e estimulado o afeto e companheirismo entre as pessoas se a tecnologia do celular não permitisse um rápido e prático desmarcar de compromissos ao localizar a pessoa em quase todos os lugares onde é possível encontrá-la?!

Logo em seguida falou do movimento trans-humanista o qual segue em sentido contrário ao anterior, ao pregar que a tecnologia é essencial ao progresso da humanidade, convém, portanto acelerar a produção e o progresso tecnológico.

Temos então aí o embate de tendências radicalmente opostas presente nos movimentos vanguardistas neste início de século.

Por conseguinte, este conflito e este embate de idéias pode ser traduzido igualmente como o conflito entre 1st Life e 2nd Life.

O 2nd Life representa aquele lado “B” das pessoas, o seu “duplo oposto”, talvez algo como o antagonismo entre Neo e o Agente Smith em Matrix (observação minha), antagonismos e oposições que permeiam o comportamento do homem contemporâneo, especialmente depois do advento da cultura da informação digital.

As pessoas hoje, seja no 2nd Life, seja com outros recursos da web podem viver duas ou até mais personalidades. Algo que os filósofos da pós-modernidade chamariam de fragmentação do sujeito. Esquizofrenia?

Talvez o consumidor atual seja mesmo um esquizofrênico: ao mesmo tempo em que adquire um Rolex falso em troca de status, compra uma bolsa caríssima de alta grife para presentear a esposa; veste uma camisa de metaleiro e chora diante da tela com Julia Roberts, acessa sites pornô no escritório e em casa navega em busca de informação profissional., e por aí vai – identidades ambíguas e antagônicas convivendo num único indivíduo.

Neste ponto da exposição, Laloum passa a citar Gilles Lipovetsky que fala do conceito de hipermodernidade, hyperzona, um movimento que está acontecendo com foco no humano, e toma o viés de oito conceitos para explicar a relação com a sua exposição.

Slow – a contradição do culto à velocidade no capitalismo atual; surge um movimento contrário, de valorização do momento.

Simplicidade – como resposta à complexidade – perceptível na estética, e deu como exemplo a home do Google: curta, grossa, objetiva e lay-out minimalista.

Mitologia – ocorre, tal como na Renascença, a retomada dos mitos, daquela idéia que está na base da cultura ocidental na civilização grega, os heróis, os deuses, estes arquétipos que podemos perceber, tal como em Superman, Matrix, Homem-Aranha, o sucesso de “brutamontes” como Schwarzenegger e Stalone: a comunicação comercial hoje opera demais com estes arquétipos fundamentais de natureza mitológica.

A volta da religião – Laloum aquí deixou fluir toda a sua alma francesa ao afirmar que a tecnologia “está”, enquanto a religião “é”, ou seja, temos aquí um jogo profundamente filosófico de conceitos básicos bem ao estilo da tradição do pensamento francês, onde se encontram os dois conceitos de tempo e espaço no entendimento da realidade; enquanto a tecnologia se coloca num constante “vir-a-ser”, a religião simplesmente não se submete a categorias de tempo e espaço.

Lembremo-nos do trecho da Bíblia, no êxodo, onde Deus apresentou-se a Moisés dizendo “Sou aquele que é” – ou seja, acima de tempo e espaço; além disso este jogo conceitual nos remete diretamente á filosofia pré-socrática: Heráclito com seu “vir-a-ser” e Parmênides com o “ser”.

Voltando ao mundo real, aplicando estes intrincados conceitos filosóficos Laloum estabeleceu a ponte com o que nos interessa: as marcas hoje estão assumindo arquétipos religiosos, envolvendo as pessoas que com elas se relacionam numa situação de crença.

A consciência da fragilidade - seria o próximo ponto. Julgo que Laloum refere-se a movimentos como, por exemplo, aqueles que envolvem a questão ecológica.

O verdadeiro – este surge como resposta à neura que se desenvolveu em torno de uma crise existencial do homem do século XXI. Por exemplo, o retorno às raízes por meios diversos, como o consumo de produtos orgânicos: cerveja, bacon, algodão, alcachofra, hortifruti.

As reuniões entre as pessoas – percebemos o quanto as pessoas estão desenvolvendo formas de relacionamento diversas até então desconhecidas, especialmente no que diz respeito à formação de grupos. A Internet facilita a reunião de grupos por interesse comum, e mesmo os grupos mais tradicionais encontram novas formas de comunicação e exploram novas sensações, como por exemplo, a sucesso que os documentários hoje fazem no cinema atraindo pessoas de diversas classes e opções sociais, em contraposição ao formato enfadonho que eles assumiam até o final do século XX em que eram atraentes só a aficionados.

Assim como pudemos observar o exemplo da campanha do uísque Jonny Walker onde o robô coloca como seu sonho explorar as sensações, a sociedade passa a valorizar mais justamente este lado humano, o das sensações, em resposta ao mundo digital.

A filantropia – esta encontra-se no purgatório. Questiona-se como as formas tradicionais de filantropia realmente surtem um efeito promotor da dignidade humana, ou seria mero artifício de um sistema em crise afins de conservação própria; até que ponto a filantropia promovida pelas grandes corporações é ética na medida em que os benefícios do filantropo são maiores que os do assistido? A legislação e os processos que regem as ongs as transformaram em rentosos negócios – isso é filantropia ou investimento, empreendedorismo?

Enfim, Laloum encerra sua colocação retomando o questionamento inicial: 1st Life vs. 2nd Life – um conflito a ser resolvido porque tal dualidade não coaduna com aquilo o que essencialmente o HUMANO almeja: encontrar a sua identidade de modo que ela não pode ser arrebatada – um único mundo, e uma única pessoa.

Quanto a mim, mais uma vez, assim como o fiquei no Top de Planejamento, estou impressionado de perceber quanto os planejadores de elite estão mais preocupados com os aspectos humanos como condição indispensável à prática do planejamento, e menos com a desgastada fórmula tecnicista-funcionalista que se impõe sob a argumentação da garantia de resultados rápiudos e consistentes.

O humano reclama: até que ponto tais resultados são realmente efetivos? Até que ponto eles garantem o sucesso de uma marca nesta civilização, que encontra-se na transição da cultura industrial para a cultura da informação digital, onde pouco podemos prever o que virá, dada a impressionante dinâmica nas relações que nunca antes se observou na história.

Realmente, ocorre um movimento semelhante aos dos sofistas da Grécia antiga hoje entre os planejadores; injustiçados pela história, e erroneamente chamados de falsos filósofos, isso quando não tiveram seu nome colocado como sinônimo de mentiroso e enganador e mesmo prostituido, os sofistas eram filósofos autênticos que ao contrário dos filhos da rica aristocracia que freqüentavam a Academia de Platão e ocupavam seu ócio com a filosofia dita “abnegada”, estes sofistas dedicavam sua produção em forma de prestação de serviço às necessidades propagandísticas dos políticos e empreendedores. Receber salário é fundamental à sobrevivência, e se ele garantir uma elevada qualidade de vida, melhor ainda. Será tão “pecaminoso” produzir conhecimento desta forma?

TEMPO VIRTUAL E PLANEJAMENTO DE COMUNICAÇÃO - um esboço sobre a publicidade na perspectiva quântica.

A realidade em que vivemos é dinâmica, cheia de nuances e inovações que apresentam novidades e revoluções a cada dia. Surpresas, catástrofes e benesses se revezam num intrincado quadro sem sentido, cuja leitura só é possível na medida do envolvimento e da contraposição entre as sensações individuais e coletivas. Com isso então, qual o significado de se planejar comunicação?

Desde o Mirc até o Second Life, o advento do mundo virtual talvez seja a forma mais representativa desta realidade, onde poucas vezes paramos para pensar no significado da palavra tempo, exceto quando o dinheiro é comprometido, já que ninguém discorda de que tempo é dinheiro.

Costumamos entender por tempo a noção que temos de compreender a interação entre presente, passado e futuro.

Vejamos o que José Leite Lopes nos fala a respeito do tempo virtual: “(...)O vácuo, o espaço físico vazio, contém diagramas fechados de pares que se criam e se aniquilam. Assim, o espaço-tempo é um sistema dinâmico complexo, com uma infinidade de ciclos, portanto de matéria virtual. É desse estado de “gravidez” que nascem partículas novas, produzidas quando lhe injetamos energia suficiente, por isso há interesse nos aceleradores capazes de produzir altas energias.[1]

Os nossos antepassados que dependiam da agricultura contavam o tempo através das estações do ano, do amanhecer e do entardecer. Na idade média, o tempo passou a ser ditado pelo perfeccionismo produtivo dos artesões. Com a Renascença, o boom científico permitiu o desenvolvimento da tecnologia alavancando assim a industrialização do tempo nos séculos seguintes; mecanizado o tempo, organizaram-se as tabelas e adquiriu-se o hábito de andar com uma máquina portátil de contagem de tempo, primeiro no bolso e depois fixada ao pulso, uma idéia do célebre brasileiro Santos Dumont. Com a indústria surgiram as grandes metrópoles, e com elas, os conceitos de horário comercial, vida noturna, tempo útil (produtivo), e o descanso, intervalo para recomposição física e mental.

Hoje, ao encurtar distâncias e agilizar a comunicação o mundo virtual alterou substancialmente este o de tempo. Parece já não haver tanta distinção entre dia e noite, tempo produtivo e descanso.

O próprio homem virtualizou–se e pode assumir ao mesmo tempo as mais diversas personalidades, e fazer coisas que até antes eram impossíveis.

Sua animalidade foi deixada de lado. Parece que ele não dorme mais, não se alimenta, não distingue o tempo de trabalhar e o tempo de descansar.
Os limites nacionais, as barreiras de cultura e idioma se minimizam no mundo virtual.

Como planejar comunicação dentro desta realidade virtual?

Ao mesmo tempo em que temos uma dispersão de nossos agentes receptores com a multiplicidade de nicks, também temos a concentração dos nichos de interesse.

Estes nichos alinhados em estatísticas gráficas compõe a famosa long tail, a longa cauda de pequenos ícones que se alinham uns ao lado dos outros, fazendo com que pelo menos por hora possamos visualizar o nosso target.

Não nos preocupamos mais em que dia e em que hora estes potenciais consumidores estarão entrando em contato com a mensagem publicitária – ela tem que estar no ar, atualizada 24 horas por dia, sete dias por semana – adeus ao tempo.

Não podemos prever a qual momento eles entrarão em contato com a nossa mensagem, já que a variabilidade de comportamentos é imensa.

Vamos retomar algumas resoluções do “Top de Planejamento 2007” – planejar publicidade é fazer com que a marca aproxime-se do consumidor e perguntar o que o agrada – e não o contrário como vinha sendo até então. Planejar implica em comprar o tempo das pessoas, pois para que elas dediquem tempo à sua mensagem alguma compensação vão exigir, e quanto mais valor você der a este tempo, mais os consumidores vão se interessar por dedicá-lo à você.

Estes sujeitos múltiplos e fragmentados só deixarão tocar-se pela propaganda na medida em que ela não for invasiva – tal qual o irritante telemarketing ativo – e envolver os seus consumidores respeitando-os em seus interesses.

Refletindo sobre estas colocações, vamos retomar então aquela citação de Leite Lopes a qual ficou sem sentido: o vácuo, o espaço físico vazio contém diagramas de pares que se criam e se aniquilam – aqui temos o consumidor que ocupa o vazio de seu tempo real (e portanto físico) com sua liberdade e probabilidades de diagramas virtuais da web a partir da qual os pares – personalidades múltiplas – se criam e se aniquilam ao bel prazer da utilização do tempo pelo consumidor que quer ver-se envolvido nesta realidade que é líqüida na medida da adequação do envolvimento ao qual cede, seguindo a diretriz de seu prazer.

É este tempo que o publicitário de hoje busca comprar, e é por isso que as marcas devem se aproximar e sentir este consumidor não de forma invasiva, mas envolvente. Uma infinidade de ciclos, esta matéria virtual líquida.

Comunicar nesta perspectiva é o mesmo que injetar energia suficiente, fecundar e refecundar este estado de gravidez que gerará novas partículas.

O desafio do comunicador então é tornar-se aquele acelerador capaz de produzir altas energias.
[1] - Lopes, J. L. TEMPO = ESPAÇO = MATÉRIA in Novaes, A. (org.). TEMPO E HISTÓRIA. Cia. Das Letras, São Paulo 1992, págs. 167 a 175.



Top de Planejamento 2007 – Primeiro dia.

Enfim, encerrou-se com um apagão no auditório o primeiro dia do Top de Planejamento 2007. Segue-se alguns comentários sobre as três palestras que ocorreram.

Samuel Russell da GM - Como seduzir na comunicação de veículos. Aberta com um pouco de atraso, a palestra versou sobre o case da recente campanha da GM que tinha como target os consumidores que hoje se encontram na faixa entre 30 e 45 anos, que se encontram em ascendência social e profissional. A EMOTIVIDADE do acompanhamento histórico com ênfase na adolescência deste target estratégicamente lançou mão de ícones culturais e midiáticos da história de vida destes consumidores - Chucky, Caça-Fantasmas, Scoobye Doo, Fofão e por aí vai - e o conceito desembocava justamente no ápice de uma história de vida bem-sucedida associada ao consumo do automóvel GM.
Sem dúvida, uma estratégia bem atual em que a publicidade se esforça para superar dogmas funcionalistas e ousar explorar com coerência e respeito ao consumidor a via das emoções - o benefício proporcionado pelo consumo de um produto não é meramente funcionalista, mas também emotivo.


Marcello Magalhães - Giovanni+DraftFCB - Uma revolução copernicana no branding.
Bem, na verdade o título da palestra foi "Brand experience. Are you experienced?" na qual Marcello explorou de forma análoga à inovação do rock proporcionada pela curta mas significativa carreira de Jimmy Hendrix, o inventor do feedback, hoje equipamente imprescindível aos músicos.
O rompimento com os paradigmas - ao mesmo exemplo de Copérnico (observação minha) na ciência pré-renascentista onde revolucionou o conhecimento com a teoria heliocentrista, e na mesma senda de Kant que aplicou esta mesma inversão de paradigmas no racionalismo filosófico ao mudar de posição buscando não o que podemos aprender usando a razão, mas sim aprendendo ao questionar a própria razão, Marcello colocou a ação de marketing da seguinte forma: as marcas até então procuravam sempre vender-se, cada qual chamando a atenção sobre sí e lançando mão das mais variadas ferramentas de comunicação para tal... inversamente hoje a publicidade eficaz não busca mais aquilo o que a marca pode opferecer, mas sim o que o consumidor deseja e adeqüar a marca a este mesmo desejo.
Para tanto Marcello citou os cases do pudim Silvester Stalone, enfeites de casamento Harley Davidson, cosméticos Evian entre outros - se os motoqueiros querem ver sua paixão aflorar num momento tão significativo em suas vidas como é o casamento, por que não somar o ícone Harley Davidson a um momento como este?
Ontem, as marcas falavam ao consumidor. Hoje, pedem que o consumidor fale delas.
And the gods make love...


Beth Furtado da QG - Os paradoxos contemporâneos da modernidade líqüida.

A comunicação envolvente - ENVOLVER - o tema explorado na palestra onde não faltaram reflexões sobre diversos conceitos filosóficos e científicos abordados com bastante propriedade. A multiplicidade e a pluralidade paradoxal do fragmentado sujeito pós-moderno possui sérias implicações sobre as relações de consumo. Traduzindo em exemplos, vemos como uma pessoa pode assumir em seus dia a dia diversas identidades diferentes: é pai de família, na internet pode ser desde um ativista político até um paquerador inveterado e é um sério e responsável profissional, entre diversas outras identades que este fragmentado sujeito pós-moderno pode assumir.
Como então planejar publicidade para atingir este consumidor que é muitos e ao mesmo tempo é um?!
O envolvimento: resgate do entrecruzamento da emoção e da razão - entender como as pessoas podem ser envolvidas pela publicidade e diante disso como farão as suas escolhas.
Então é isso, vamos nos preparar então para o dia de amanhã - até lá.


Top de Planejamento 2007 2º dia, e no total um show de filosofia.

Em linhas gerais posso dizer que tive uma surpresa ao verificar nas colocações dos oradores quais são as tendências do planejamento na atualidade.
Todos eles centralizaram suas palestras no desenvolvimento de temas essencialmente filosóficos, e a partir disso teceram seus conceitos sobre a prática de planejar comunicação na atualidade.

Particularmente isso me agrada muito, já que apesar da pós-graduação em comunicação, eu sou graduado em filosofia.

Apenas para citar algumas das colocações mais pertinentes a esta questão, como já comentei em outro post, a reflexão apresentada pelo Marcello a partir da experiência de Hendrix nos mostrou, entre outros aspectos, a mudança da posição de observação do interlocutor - ontem, ganhava a marca que mais gritava, que mais aparecia; hoje, ganha a marca que é mais sensível e se aproxima de seu consumidor para entender como ele a recebe e entender como é a marca que gosta de receber.
Este postulado é muitíssimo parecido com a chamada revolução copernicana que se observa no distinto pensamento de Immanuel Kant, que viveu na Prússia do século XVIII, autor de "Crítica da Razão Pura". Kant preocupava-se com nossa experiência de apreender o mundo; por isso mesmo, sua revolução copernicana consistia, como Copérnico que trocou a Terra pelo Sol no centro do universo conhecido, não em perguntar se a validade do conhecimento é fundamentada pela razão, mas sim em entender o funcionamento desta própria razão - o que perfeitamente é, em outras palavras, aplicado à nova posição do trabalho para com as marcas - não simplesmente usar a mídia e a publicidade para fazê-las entrar na marra no share do consumidor, mas sim aproximar-se deste consumidor e entender o porque certas marcas são aceitáveis pelo seu share - inverter o processo publicitário que tem por missão antes de mais nada promover o sucesso da marca, sucesso este que nada mais é que colocar-se cada vez mais na ordem de prioridade das opções do consumidor, assim como a experiência do canhoto Hendrix evocava diversos elementos da inversão do convencional.

Já nossa amiga Beth Furtado trouxe à baila a reflexão sobre o paradoxo pós-moderno da fragmentação do sujeito; tá bom, não vou complicar com filosofês: este paradoxo em termos práticos é aquilo o que observamos na internet, onde um usuário pode viver ao mesmo tempo múltiplas personalidades e ele é ele mesmo em todos, o mútiplo e o uno - quantos profiles diferentes posso abrir no orkut para explorar diferentes fascetas da minha personalidade?! Muitos.

Um toque da Escola de Frankfurt é levemente resvalado em sua colocação quando ela falou sobre a transitoriedade; se os Frankfurtianos como Horkheimer, Adorno, Walter Benjamin e outros discorreram sobre o advento da indústria cultural e as modificações que o tempo industrial impôs à nossa civilização em superação ao tempo artesanal, hoje eu digo que vivemos o tempo digital... ou poderia ser tempo virtual - na internet posso exercer diversas atividades, umas mais imediatas e outras mais longas, considerando que dentro da virtualidade não somos pressionados pelo tempo produtivo do relogio do capitalismo... ou somos?

Hoje, a modernidade líquida... uma modernidade que como um líquido amolda-se a todo recipiente que o contém. Diferente da sólida modernidade cartesiana do "penso, logo existo" que está nos primórdios do advento do capitalismo.

Este homem, este sujeito que Descartes colocou se efetiva na medida em que usa a sua razão, mas para o planner de hoje o homem se efetiva onde a razão e a emoção se encontram naquilo o que Beth chamou de envolvimento.
Significa que planejar comunicação hoje não é mais usar a coisa em sí, algo como o Marcello disse - fazer com que a marca grite, apareça e se imponha ao consumidor sem se preocupar com sua opinião ou sensação, mas o envolvimento implica em planejar publicidade explorando a sensação que o objeto - marca, produto etc. - proporciona ao consumidor.

Planejar seria então entender como as pessoas são envolvidas e fazem suas escolhas - dominar esta ferramenta essencialmente freudiana (é, ele explica tudo mesmo) é ter em mãos a capacidade de planejar publicidade de sucesso.
Já o professor Schweriner desenvolveu uma palestra de cunho filosófico-sociológico propriamente dito quando então tematizou o conceito de consumo na atualidade.

Não existem verdade, mas interpretações... cada qual tem sua perspectiva muito pessoal, muito individual, da realidade. Por isso é impossível aplicar valor de universalidade a qualquer verdade - sim, o professor Schweriner falou isso, mas Nietzsche também havia dito isso no século XIX.

Na sua alegoria da ampulheta expôs um sistema curioso e bem didático da sua concepção do processo de gênese do desejo em contraponto à necessidade - na parte de baixo da ampulheta, mais próximos da base e de nossas necessidades é que se forma nosso sofrimento, e a areia tende pela gravidade a descer; nossa luta é para fazer que a areia permanece mais tempo e em maior quantidade na parte de cima, parte esta que pode ser aberta ao infinito, longe de nossas necessidades, em busca dos desejos.

A satisfação é algo pertinente às necessidades, já que é impossível satisfazer um desejo; não porque não se consegue adquirir este ou aquele bem, realizar este ou aquele sonho de consumo, mas sim porque na medida em que um desejo seria por assim dizer, "satisfeito" ele imediatamente deixa de ser desejo.

Necessidades nos empurram. Desejos nos atraem... talvez seja por isso que ele classificou como insana a atitude do marketing das montadoras de lançarem em 2007 modelos 2008... mas é justamente esta situação - a de sempre adiantar-se ao futuro - ou seja, o seu conceito de necejos - a fusão da necessidade com o desejo.

Nosso amigo Ken Fujioca, no meu entender, desenvolveu uma colocação perfeita no tocante a expor de forma sistemática a ponte entre os conceitos filosóficos que embasam sua prática de planner e esta prática propriamente dita.

Tempo - a nova moeda. A frase não é nova, pois afinal de contas ela casa com uma das principais máximas do capitalismo - tempo é dinheiro. Mas Ken nos falou de uma nova moeda. Então, vejamos o que ele quis dizer com isso.

Um planejador busca o equilíbrio entre as mais variadas características de seu ser profissional, ora mais intuitivo, ora mais analítico, ora mais empreendedor etc.
Este planejador hoje vai buscar nada mais nada menos que conciliar de forma equilibrada toda esta fragmentada multiplicidade que compõe seu ser (este conceito já foi explorado em outras palestras) já que sua missão é comprar o tempo das pessoas, o que significa que a propaganda não pode ser invasiva, tal como é um telemarketing ativo, mas tem que se preocupar em respeitar o consumidor e deixar de interromper seus interesses.

A propaganda deve levar as pessoas a se envolverem com a idéia (este conceito também foi tratado em outras palestras).

Falar da vida das pessoas ao invés de falar das categorias - algo como a marca perguntando às pessoas a sua opinião, como disse o Marcello.

Enfim, em termos práticos esta posição do planejador é praticamente intraduzível - a "coisa" como disse Ken, é algo que se aproxima do conceito de comunicação integrada, que na teoria existe muito, mas na prática é duvidável... e é da sua execução plena que um "comprador de tempo" de sucesso tem que buscar para ser um bom planner na atualiadade. Grande Ken.

Infelizmente, tive um contratempo e perdi a palestra do Leonardo da FEMSA, peguei só os instantes finais da exposição e a sessão de perguntas, mas adorei o carisma e a comunicabilidade dele. Pena que perdi o conteúdo e não posso analisá-lo aqui.

Percebemos então caros amigos a sincronicidade dos conceitos que apareceram em quase todas as palestras do Top de Planejamento 2007; cada orador, lançando mão de sua experiência e conteúdos próprios trabalhou, cada qual em sua linguagem, toda uma série de conceitos presentes nas tendências atuais do planejamento.

Valeuuuu!